___Ocupação do espaço é um fenômeno interessantíssimo de se perceber. Quando essa ocupação perverte a concepção original, então, fica mais fácil ainda de se lembrar que sempre existem novas e incríveis possibilidades em tudo que é canto.
___Entre 2007 e 2008, as calçadas da Avenida Paulista foram reformadas e os antigos mosaicos lusitanos que decoravam o calçamento foram substituídos por grandes placas lisas de concreto. Além da reforma básica e do embelezamento do local, a ideia inicial da troca de piso era facilitar o deslocamento de cadeirantes e demais portadores de necessidades especiais pela região.
___O resultado acabou sendo mais bonito ainda. Por conta da reforma, as calçadas da Paulista acabaram se tornando mais ainda um espaço de convivência, pois o calçamento liso tornou o local próprio para a prática de skate. Durante as noites e os finais de semana, diversos grupos de skatistas acabam se reunindo para conversar e treinar manobras (principalmente quando vizinhos, seguranças particulares e afins não chamam a polícia para tocá-los do local).
___O mesmo aconteceu com a Praça do Ciclista. Como medida de segurança, a mureta que “protegia” os pedestres para que eles não caíssem no buraco do túnel da Paulista foi, depois de muito tempo, cercada por gradis. Lindamente, o significado de tudo não é único e essas grades podem ser encaradas de outras maneiras. O que, oficialmente, serviria apenas para proteção, tornou-se um paraciclo para os ciclistas que freqüentam o local.
___A beleza disso tudo é ver os cidadãos transformando o que o espaço urbano lhes oferece para tornar o próprio cotidiano prazeroso. A cidade deixa de ser um local pré-determinado, morto, sem chance de transformação, para virar um lugar amorfo em que as pessoas podem construir as partes interessantes das próprias vidas. Usa-se o espaço para viver, não só para se estar.
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P.S.: Outro belo exemplo de ressignificar algo foi o Ossário de grafite reverso feito por Alexandre Orion.
___Orion viu a poluição que a cidade oferece a todos de outra forma e utilizou-a como material artístico. Mais de uma vez foi abordado pela polícia (que nada podia fazer contra um maluco limpando um túnel). Infelizmente, teve seu trabalho censurado/destruído quando a prefeitura resolveu – de maneira inédita –, limpar o túnel. Vejam o relato do artista no site da obra.
P.P.S.: Utilizei aspas quando falei que a mureta da Praça do Ciclista servia para proteger os pedestres, porque o tamanho da “proteção” era tão irrisório que o cicloativista Luddista, de maneira genial, chamou a muretinha de para-joelhos.
P.P.P.S.: Aproveitando que o assunto é a ocupação do espaço de maneira atípica, o projeto Ocupação, do Itaú Cultural, continua acontecendo, com seus defeitos e qualidades. A ocupação deste mês é uma homenagem a Chico Science.
Hum, eu acha interessante a prática do grafiti reverso e as controvérsias que ela gera. Eu acho triste a prefeitura ter decido limpar os túneis somente depois de ter feito um grafiti, tão bonito.
ResponderExcluirNo entanto eu ainda tenho minhas ressalvas a respeito do grafiti ser feito em locais públicos sem autorização. O metrô do Recife fez uma experiência interessante, onde eles permitiram que alguns carros fosse grafitados por artistas e realmente tiveram trabalhos interessantes.
Eu acho que a ocupação do espaço pelas pessoas é algo interessante e faz com que repensemos o modo como vemos nossa cidade, no entanto eu acho que se tem que ter algum cuidado para não virar bagunça.
Acho interessante anexar à história a Internacional Situacionista (vá ao Orágoogle), coletivo de artistas e urbanistas que visava, entre outras coisas, devolver a cidade às pessoas. A noção de Deriva, instalada por Raoul Vaneigem, se não me engano, associada ao conceito de nomadismo psíquico, criados por Deleuze e Guattari, explica esta apropriação do coletivo de formas inusitadas e alternativas. São espaços assim que devemos lutar para existir, espaços em que o privado se renda ao público e onde as diferenças podem ser respeitadas.
ResponderExcluir[...] CCBB Apr 24th, 2010 by Ulisses Adirt. Share___Lembram quando falei da obra Ossário, de Alexandre Orion? Para quem mora, como eu, em Sampa, é possível ir até o Centro [...]
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