___Lombrigas são parasitas. Para conseguirem sobreviver elas precisam se alimentar do seu hospedeiro, tirar energia do outro. Portanto, além de precisarem de outro para sobreviver, ainda o prejudicam. Mais do que isso: não há troca, o hospedeiro não ganha nada com isso, só sai perdendo. O mesmo acontece com a Educação, que vive sendo parasitada pela burocracia.
___Eu trabalho em uma escola pública que, como é bem fácil de se imaginar fora das campanhas eleitorais, sofre com falta de recursos. Não é incomum faltar sabão e papel nos banheiros, material para consertar portas quebradas e goteiras do teto ou até mesmo livros para a biblioteca e giz para se escrever na lousa. Exatamente por isso, cada vez que um professor elabora uma prova o número máximo de páginas tem de ser duas. A falta de recursos para a escola faz com que os professores tenham de se deparar com esse limite muito pequeno de cópias por aluno.
___Talvez algum leitor impaciente esteja pensando: “Já entendi, você está reclamando da falta de grana. Mas, por que atacar a burocracia no primeiro parágrafo e no título? O que a musa dos fabricantes de carimbos fez de errado?”. Calma, eu explico.
___Por resolução da direção, ideia típica de burocratas educacionais que nunca entraram em uma sala de aula, agora os professores são obrigados a colocar, no início de cada prova, um grande elefante branco cabeçalho.
___Nome do aluno, número e série, eu admito, é algo necessário. O restante, entretanto, é ruído que só serve para ocupar o parco espaço da prova. Com a maior fonte da prova, os logos do governo e da sua autarquia; abaixo, menor, o nome da escola; data; nota. Curso, componente curricular e nome do professor, como se todas essas informações fossem grandes mistérios, insondáveis até mesmo para os alunos que fazem aquele curso e estudam aquela matéria com o professor que está, em sala, aplicando a prova.
___Como se não bastasse, ainda é necessário colocar na prova as Competências/Habilidades e os Critérios de Avaliação. As primeiras são apenas um bando sentenças de efeito da área da Educação, buridiquez pedagógico para justificar os conteúdos ensinados e cobrados. Os Critérios de Avaliação servem para dar lastro para a correção dos professores caso algum aluno reprovado resolva abrir um processo por conta da nota ruim.
___Resumindo: por causa de bobeiras burocráticas perde-se praticamente metade de uma página. Lembrando que cada professor só pode pedir, às custas da escola, duas cópias por estudante. Perde-se um espaço importantíssimo que poderia ser utilizado para colocar textos, imagens ou qualquer outra coisa que pudesse ajudar a avaliar os alunos ou, mais tarde, para tornar mais didática a correção. E, mesmo se os professores não fossem utilizar para nada daquela metade da página, ela poderia muito bem servir para que os alunos escrevessem as suas respostas. Diagnóstico: para o governo a burocracia é mais importante que o ensino.
###
___Escrevo tudo isso para denunciar e desabafar. Não vou pedir para que algum parasita da Secretaria da Educação* justifique a existência desses cabeçalhos inúteis e obrigatórios. Por que não? Porque, se por um milagre a resposta viesse, seria apenas um grande gasto de recursos públicos, com papeis que viriam em um buridiquez vazio para justificar o nada. Melhor assistir Seinfeld.
#####
P.S.: Vale lembrar: no início deste ano, uma das palestras dadas aos professores foi exatamente sobre “Preenchimento e Entrega das Papeletas”. Não há dúvidas que a burocracia está vencendo.
__________
* Ou, no caso, para da Secretaria de Desenvolvimento – que é quem “cuida” do Centro Paula Souza.
Não vejo nada de errado nisso. Acho que essas coisas são muito necessárias. Eu, por exemplo, não sabia que nas provas os professores iriam avaliar a clareza de ideias, argumentação consistente, etc. Eu também não sabia que para estudar história eu precisava analisar diversos textos interpretativos e teóricos. Essas coisas são muito úteis. Muito mesmo. Muito. Fico surpreso que só tenham inventado isso agora.
ResponderExcluirhahahahaha
ExcluirObrigado, Anônimo. Vc entendeu exatamente o espírito da coisa.
É exatamente pq não haviam inventado isso antes q a Educação ainda não foi para frente no Brasil. :-)