* NSFW, mas deveria ser.
Você lembra
onde viu a Mona Lisa pela primeira vez? Eu não lembro. Obviamente não
foi no Louvre, porque nunca estive lá. Parece que eu sempre soube da existência
da mais famosa pintura de Leonardo da Vinci, como se tivesse nascido sabendo.
Mas, óbvio, não foi assim.
Algumas
obras de arte são tão comuns que parece que sempre estiveram dentro da minha
cabeça. Provavelmente, todo mundo deve se sentir assim sobre algumas obras. Por isso mesmo, quando vejo uma obra que não conhecia e gosto,
fico com uma sensação gostosa de saber exatamente quando e onde a vi pela
primeira vez. Sei, por exemplo, exatamente o que
estava acontecendo quando tive meu primeiro contato com A origem do mundo,
pintura de 1866 de Gustave Courbet.
Mais ou
menos no auge do Facebook, algumas mães, felizes pelo bebê que acabara
de nascer, postavam fotos amamentando. Com a desculpa de que queria evitar
fotos pornográficas, a rede social censurava as imagens e bloqueava os perfis das
mães. Alguns homens, em apoio a essas mulheres, publicaram fotos sem camisa e,
obviamente, não sofreram nenhuma censura do Facebook. Até que um homem da
minha rede (desculpe-me, não vou me lembrar quem foi) não postou uma foto, mas,
sim uma pintura. A pintura de Gustave Courbet. Sem entender a ironia (seja da
pintura, seja da postagem), a rede social censurou a pintura e bloqueou
o rapaz –, que, na época, publicou um texto em um blog contando o caso.
Sim, o Facebook
censurou uma pintura do século XIX. De qualquer modo, foi assim que eu vi, pela
primeira vez, A origem do mundo e descobri que se tratava de uma
pintura muito famosa.
Nesta
semana, passeando pelo Sesc Avenida Paulista, entrei na exposição Tornar-se Orlan, da artista francesa Mireille Suzanne Francette Porte, mais conhecida
como Orlan. Lá, escondida em um canto, tive o prazer de ver, pela primeira vez,
a obra A origem da guerra (1989).
Orlan fez
uma releitura maravilhosa da obra de Gustave Courbet. A origem da guerra
foi feita nos mesmos moldes dA origem do mundo, reproduzindo, inclusive o
tamanho e a moldura. A obra de Orlan mantém a ironia presente na de Courbet,
choca o público (efeito também causado por A origem do mundo) e acrescenta um elemento feminista (possivelmente ausente em Gustave
Courbet).
Fico feliz
de ter conhecido ambas as obras e de ter o privilégio de lembrar exatamente como
as conheci.
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P.S.: Em 2014, a artista Deborah de Robertis fez uma
performance em frente ao quadro A origem do mundo chamada Espelho da Origem mostrando o mesmo que a
pintura mostrava. Os seguranças esvaziaram a sala, procuraram ficar na frente
da artista e ela acabou escoltada para fora do Museu de Orsay pela polícia. Aqui um texto legal sobre a obra e aqui um vídeo da performance.
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