___Em uma das passagens bacanas do filme Um sonho de liberdade, de Frank Darabont, Andy, a personagem principal, escreve insistentemente para o Legislativo solicitando mais verba para a biblioteca do presídio. No conto em que o filme foi baseado, “Rita Hayworth e a redenção de Shawshank”, de Stephen King, o trecho que conta esse episódio é assim:
___– Vá em frente e escreva suas cartas. Eu até coloco no correio para você, se pagar o selo. [–, disse, em 1954, o diretor Stammas.]
___(...) Os pedidos de Andy de verbas para a biblioteca foram sistematicamente recusados até 1960, quando recebeu um cheque de duzentos dólares – o Senado provavelmente o enviou na esperança de que ficasse quieto e desaparecesse. Esperança vã. Andy sentiu que tinha dado o primeiro passo, e redobrou seus esforços; duas cartas por semana em vez de uma. Em 1962 conseguiu quatrocentos dólares, e pelo resto da década a biblioteca recebeu setecentos dólares anuais regularmente. Por volta de 1971, tinha aumentado para mil dólares.*
___Pode ser algo chato, mas insistir insistentemente muitas vezes pode trazer resultados.
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___Moro com minha esposa no Bixiga, em um apartamento construído na década de 70. A idade do apartamento tem vantagens e desvantagens. Entre as vantagens está o tamanho do imóvel. Entre as desvantagens, o fato de que algumas partes do apartamento já passaram da hora de serem trocadas. As janelas certamente entravam nessa categoria. Quando chovia muito forte, vazava tanto que era possível até treinar natação sem sair de casa.
___Juntamos dinheiro, pesquisamos e contratamos uma empresa chamada Qualifac para instalar as novas janelas. O serviço não ficou perfeito, mas duas ou três ligações e um pouco de paciência fez com que a empresa deixasse tudo como queríamos.
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___Como contei, no dia 26 de dezembro, aqui no blog, eu ganhei de natal um par de tênis de dança. Ofensivamente, o par era formado por dois pés esquerdos.
___O tênis foi comprado na loja virtual Marnet Danças, a “Distribuidora Oficial da Capezio”. Por isso mesmo, comecei entrando em contato com a empresa. Simpaticamente, ela me sugeriu que eu, com os meus recur$o$, lhes enviasse o tênis para “averiguação”. Como eu não gostei muito da sugestão, decidi entrar em contato direto com a Capezio.
___Isso fez com que as pessoas doces e atenciosas dessas lindas empresas ficassem dizendo que eu era muito especial, que eles estavam pensando muito em mim, mas que “Ainda não temos o seu número.”, “Tente pedir na filial do Acre.”, “Desculpe-me. Você trouxe o formulário azul claro. O correto para solicitar uma troca é o formulário azul calcinha, em três vias.”.
___Mesmo assim, eu continuei pentelhando insistindo e, finalmente, no dia 15 de abril eu recebi o meu tênis. Depois de quase quatro meses eu recebi no conforto do meu lar, com o frete bancado pelas empresas que erraram ao mandar dois pés esquerdos? Não...! Eu recebi em mãos, quando fui pessoalmente a uma das lojas, depois de ligar pela 69ª vez perguntando se o meu tênis havia chegado.
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___Qual a lição que se tira disso?
___Continue insistindo? Talvez. Realmente pode dar certo. Só que eu acho que é possível para acrescentar um ponto aí: também vale a pena escrever um texto difamando a empresa que atendeu mal o cliente. Dá até para terminar indicando a concorrente.
___Portanto, caros leitores, se quiserem comprar algum produto relacionado a dança, indico a Só Dança.
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P.S.: Sobre consumidores reagindo contra empresas desonestas, incompetentes e afins, nada melhor do que indicar o Otário A. Anonymous. Se não conhecem, vale a visita.
P.P.S.: O meu exemplo preferido fora do Brasil é o do músico Dave Carroll. Fica um link para quem quiser saber um pouco mais do caso e ouvir sua mais famosa composição – “United Breaks Guitars”.
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* Pessoalmente, achei que o filme narrou esse episódio de maneira melhor que o livro. Mesmo assim, para fins de indicação, achei que valia a pena citar as duas versões.
Insistência é extremamente válida não somente em empresas.
ResponderExcluirNo mais, gosto desse "Otário A. Anonymous." Apesar de discordar de algumas posições políticas tanto dele quanto da Anonymous.
Ironicamente ou não, estou passando por algo semelhante nesse momento (aliás, quando não estamos?) e esse textozinho maroto me animou a reclamar.
Grato.
Rudá, meu querido, é meio difícil concordar com tudo o que alguém fala. Tb não concordo com tudo que o Otário fala, mas tb não concordo nem com tudo que o Ulisses falava há 5 anos. ;-)
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