___Nunca fui muito fã de ficar vendo fotos de viagem. As pessoas insistem em mostrar um conjunto interminável de fotos que raramente são interessantes e nunca são bem tiradas. Sempre acho melhor olhar uma fotografia bem feita, de alguém que sabe tirar fotos, mas que eu não conheço, do que olhar a do meu amigo encobrindo com a cabeça a metade da estátua que ele resolveu fotografar.
___Eu gostaria muito que as pessoas pegassem o costume de mostrar apenas as 10 melhores fotos da viagem. Ou, pelo menos, que tivessem sempre boas histórias ou comentários para cada uma das fotos.
___Posso não ser um grande fotógrafo, mas tenho alguns comentários sobre algumas coisinhas que eu vi em Salvador. Portanto, caso alguém se interesse, segue o texto.
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Intolerância religiosa
___Apesar da postagem engraçadinha sobre minha “conversão” ao protestantismo, fiquei impressionado como até na Bahia existe uma intolerância cristã ativa contra o candomblé. Até mesmo no Dique do Tororó, famoso por suas estátuas de orixás.
___Como uma explicação turística para quem vai olhar as estátuas, foi colocada uma placa na margem do Dique falando um pouco de cada um dos orixás que estão no local. Algum religioso intolerante foi até a placa e a depredou.
___Antes que alguém diga que foi uma depredação sem cunho religioso, aconselho uma olhada mais detalhada. Percebam como apenas o rosto das imagens e a fotografia das estátuas na água é que sofreram depredação.
___Ah... é tão bom ser sempre lembrado de que “Deus é amor.”.
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Carrocracia
___Infelizmente Salvador entra na lista das cidades em que os carros são tratados com mais cuidado e respeito do que as pessoas. Olhem o que acontece em diversas ruas:
___Para que os carros tivessem um liso e perfeito asfalto para trafegar, as ruas foram constantemente recapeadas. Para os automóveis, tudo às mil maravilhas; por outro lado, para os pedestres as coisas não andam tão bem. O recapeamento constante foi deixando o asfalto cada vez mais grosso, afastando-o do chão original. A sarjeta continuou na altura original, enquanto o asfalto foi ficando cada vez mais alto.
___O resultado, como se pode facilmente perceber pelas fotos acima, foi a formação de uma pequena cratera entre a calçada e o asfalto. Se o objetivo do governo soteropolitano foi construir armadilhas para machucar pedestres por toda a cidade, podem apostar que ele foi bem sucedido.
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Destruindo o passado
___Para uma cidade que tem o turismo como uma fonte de renda tão importante, não me parece muito inteligente a completa falta de cuidado ao se preservar o passado. É triste, por exemplo, ver como permitiram que o moralismo destruísse parte dos seios de uma das personagens desses azulejos portugueses, feitos por Bartolomeu Antunes de Jesus, no século XVIII.
___O problema, infelizmente, não fica só na depredação. Mais triste ainda é notar que dificilmente devem contratar historiadores em Salvador para cuidar de museus, igrejas turísticas e afins. É possível perceber isso tanto pelas obras expostas sem indicações minimamente aceitáveis*, como, também, pela preservação inexistente de alguns locais.
“Mármore antigo com alguma gravação? Túmulo? Dane-se! Eu tenho que passar um cano por aqui.”
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Fabricando o passado
___Costuma ser salutar desconfiar de homenagens públicas. Em Salvador, não são difíceis de encontrar algumas dessas homenagens ao ACM.
___Para mim, placas como essa parecem simplesmente uma safadeza de um político usando o dinheiro público para forjar o passado. Como é fácil ver o que já passou de maneira mais positiva do que foi de verdade, nada como espalhar homenagens pela cidade para que visitantes, novos cidadãos ou pessoas de memória fraca passem a pensar “Puxa, com tantas homenagens... Esse homem deve mesmo ter sido mesmo bom.”. Já eu acredito que se trata muito mais de um caso próximo ao cara que compra um carro caro tentando compensar alguma coisa.
___De qualquer modo, o modo como eu encaro pode estar errado. Talvez a realidade pode ser muito mais triste, talvez realmente as pessoas quiseram homenagear o Antônio Carlos Magalhães.
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* Com a honrosa exceção do Museu Náutico da Bahia, no Farol da Barra.
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