28 de junho de 2011

Se minha vida fosse um filme...

___Queridos leitores, vocês nem imaginam como estou ansioso pelo meu casamento. O dia “oficial” (que de oficial não tem nada – já que não haverá cartório, nem juiz de paz, nem, graças a Clio, padre) é o dia 10 de julho. Mesmo assim, se a reforma da nossa casa terminar antes, juntamos antes também.
___Diga-se de passagem, tenho de dizer: se eu morasse em Dogville, já teria mudado.


Minha Dogville



Minha Dogville

25 de junho de 2011

Sentido!

___Eu gosto de experimentar tudo que é tipo de recurso em sala de aula – de fofocas atuais a históricas, de filmes a músicas, de livros a interpretações, de passos de dança a games, de relíquias arqueológicas a objetos da minha cozinha, de obras autografadas a orelhas direitas de pintores impressionistas. Só para dar um exemplo, já analisei, mais de uma vez, aqueles clássicos soldadinhos de plástico nas minhas aulas de História.


Soldados de plástico


___Por isso mesmo, eu quero saber: onde diabos eu contrato esse cara?


Soldado sem plástico
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P.S.: Para quem se interessa por soldadinhos de plástico, recomendo fortemente o Plastic Soldier Review.

23 de junho de 2011

Aplauda com moderação

___Imaginem como deve ser horrível terminar uma peça e ninguém aplaudir. Ou uma palestra sendo concluída sem nem um simples bater de palmas. Horrível, não? Dificilmente palestrantes ou atores não sairiam arrasados do lugar. Porém, admitam, por mais chata que seja a situação, ela é minimamente plausível.
___Agora, como um simples exercício, vamos inverter a situação. Concebam o absurdo que seria se, durante toda a palestra, o público resolvesse aplaudir descontroladamente. O pobre professor se matando para tentar explicar o complicadíssimo conceito de como é possível interpretar o Mito da Caverna sob um viés foucaultiano e as pessoas batendo palmas e berrando sem parar. Nem o palestrante conseguiria ouvir a própria voz, imaginem o resto da platéia.
___O mesmo para o teatro. Primeira Cena, do Terceiro Ato, de Hamlet. Por um lado do palco saem o Rei e Polônio; do outro, entra Hamlet. Como os aplausos ainda estão fortes pela saída dos outros dois atores, aquele que interpreta Hamlet espera um pouco antes de começar seu famoso monólogo. Assim que finalmente o silêncio se instaura, ele começa:




Ser ou não ser... Eis aUUUUUUUURRRRUUULLLL! Clap, clap, clap... É isso aí, Hamlet!... e dar-lhes fim tentando resistir-lhes? Morrer... dormir... mais nadCLAP, CLAP, CLAP, CLAP, CLAP!...lução para almejar-se. Morrer.., dormir... dormir... Talvez sonhar... É aí que bate o ponto. O não SabFIIIIIIIIIIIIIIUUUUUUUU! Tá mandando muito, ô birutinha!... faz covardes a consciência. Desta arte o natural frescor de nossa resoluçãoClap, clap... GATÃÃÃÃO! Clap, clap...... reflexões, e até o nome de ação perdem. Mas, silêncio! Aí vem vindo a bela Ofélia. EmGOSTOSAAAA! Clap, clap, clap... Quebra tudo, Ofélia! Se joga!



___Bruta falta de respeito, não? Ao fim da peça, não vai dar para saber nem se tinha algo fora da validade no Reino da Dinamarca.
___“Ah, Ulisses, mas é uma homenagem a quem está lá na frente.”. Homenagem maior seria prestar atenção e, depois, aplaudir – respondo eu. “Ah, Ulisses, ninguém faz isso em uma peça ou palestra.”. Fazem sim (não de maneira tão exagerada) e eu sempre acho desrespeitoso. “Ah, Ulisses, palestrantes e atores têm como contornar isso. É só esperar que o público pára e aí o cara continua a fala.”. Minha grande questão é: e se eles não puderem esperar?


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___Na dança de salão existe o péssimo costume de se assistir coreografias como se as pessoas estivessem em um jogo de futebol. Aplausos e gritos são ouvidos o tempo todo. Só falta alguém desenrolar uma bandeira. Em uma partida, entretanto, a visão resolve.
___Ao dançar – é sempre bom lembrar –, os dançarinos estão interpretando uma música. Uma música contínua, que não pára e espera os aplausos, que começaram no meio dela, pararem. Abafar o som da música com barulhos ensandecidos só destrói parte da beleza do que está sendo feito. Uma dança não é composta só de movimentos ao léu.
___Olhem uma coreografia de samba de gafieira com Jimmy de Oliveira, Suellen Violante, Leo Fortes e Robertinha.


httpv://www.youtube.com/watch?v=o9H8__KBZV8


___A coreografia foi toda montadinha, cheia de brincadeiras com a música. Movimentos clássicos de samba foram cuidadosamente escolhidos para se encaixarem com o que estava sendo tocado. Porém, infelizmente, muito se perde. Toda a gritaria do público acaba abafando a música e impedindo que se perceba grande parte do que foi trabalhado pelos dançarinos.
___Os aplausos, gritos e afins estimulam quem está dançando? Claro. Só que um coreógrafo obviamente não fica nada estimulado em trabalhar com cada detalhe de uma música se sabe que ninguém vai conseguir ouvi-la. Estímulo maior – para dançarinos e coreógrafos – seria prestar atenção ao que está sendo mostrado, entender a coreografia e, então, quando a apresentação terminar, aplaudir até as mãos sangrarem.
___Discordam de mim? Acham que eu sou um chato idiota por escrever isso? Se quiserem, agora, é só encher os comentários de vaias. Entretanto, fico satisfeito por imaginar que vocês leram o texto até o fim – e em silêncio.


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P.S.: Aproveitando o assunto, mostro mais um vídeo. Agora de West Coast Swing.


httpv://www.youtube.com/watch?v=pTDIuwYvyDk


___Eu vi essa coreografia antes que ela fosse mostrada para o grande público. Toda redondinha, cheia de firulas fundidas com a música, mas que se perdem por conta da gritaria. Só para dar um exemplo rápido, revejam o começo: o Edson Modesto e a Cintia Fiaschi não só mexem as pernas em perfeita comunhão, eles o fazem em uníssono com a música (17”) –; só que apenas é possível perceber isso no vídeo quando o footwork já está no meio (24”). É uma pena, originalmente era um belo efeito.
P.P.S.: Já que eu falei de West Coast Swing, da Cintia Fiaschi e do Edson Modesto, vale citar que hoje começou o congresso de dança que eles estão organizando, o West em Sampa. Vai até dia 25 de junho. Mais informações aqui.

20 de junho de 2011

Casa respeitável

___Sempre acho interessante descobrir o que as pessoas acham importante, quais suas prioridades. Olhem o que um inquilino considera respeito.


Casa respeitável


___Será que a placa estava na frente de uma igreja?

17 de junho de 2011

Quadrilha: da elite ao populacho, do populacho à elite

___Estudar História das Danças é sempre algo interessante. Não só pela vantagem fabulosa que é ter a possibilidade de sair do acadêmico para experimentar o aconchego de um par durante a pesquisa, como, também, pela descoberta dos divertidíssimos caminhos tortos que as Danças percorreram para chegarem a ser, hoje, como são.
___A famosa quadrilha junina, por exemplo, tem sua origem nos salões de bailes das elites européias de meados do século XVIII, início do XIX (século em que veio para o Brasil). O número de pares (quatro inicialmente, por isso mesmo o nome da quadrilha), deixou de ser fixo quando a dança foi cooptada pelos mais pobres.


Quadrilha (1817)


___Foram também as classes mais baixas que continuaram a dançar a quadrilha quando ela saiu de moda nos grandes salões. Como os salões de dança – e as mudanças de moda – eram mais comuns nas cidades, com o tempo, até o populacho urbano (que trabalhava nesses salões) deixou de dançar a quadrilha e começou a brincar com as danças do momento. No campo, como as novidades tardavam em chegar, a tradição da quadrilha continuou viva por muito mais tempo.
___É só no século XX que as elites urbanas voltam a ter contato com a quadrilha. Só que, então, ela não era mais uma dança de salão, mas sim uma curiosidade. Transformada em folclore, a quadrilha é deturpada, estereotipada como uma excentricidade caipira. Em escolas por todos os cantos, crianças colocam camisas xadrez, calças com remendos, chapéus de palha e saem brincando de matutos.


Quadrilha


___Todo esse caminho – surgindo nos salões e ganhando mais pares com o povo; sobrevivendo no rural e sendo recriado de maneira estereotipada no urbano –, por mais estranho que seja, por mais criticado que possa ser pelos puristas, só mostra o quão viva e mutante uma dança pode ser. Um monte de mudanças e o nome se manteve. Nunca deixo de achar lindo todo esse processo. Já as quadrilhas políticas, eu não acho nada bonitas. Só os nomes que mudaram, de resto, elas parecem sempre as mesmas.

14 de junho de 2011

Diálogo pós-Dia dos Namorados

___Entro no MSN e vejo uma amiga (que namora faz décadas) com a mensagem “Dia dos namorados mais deprê da minha vida”. Solícito, começo um diálogo:




Eu: Td bem, mocinha?
Ela: olá, td, e vc?
Eu: Td bem... Mas, pq vc está dizendo q teve um dia dos namorados deprê?
Ela: aah, não é nada. eu falei besteira, ele fez besteira e acabei passando o dia dos namorados sozinha. me arrependi, mas ele ainda está chateado
Eu: "Ele" quem? “Ele” – o dia – ou "ele" – o seu namorado?



___Ela me mandou pastar, mas sorriu em um smile (:-)).  Pelo menos por um momento o pós-Dia dos Namorados dela pareceu menos deprê.

10 de junho de 2011

O rosnado da besta-fera

___Conhecem aquela cena do filme O Diário de Bridget Jones em que Daniel Cleaver, a personagem de Hugh Grant, reitera toda sua machesa, todo seu poder falocêntrico, dublando o rugido do próprio carro? Dá para ver a brincadeira no 1’23” do trailer.


httpv://www.youtube.com/watch?v=vp08csjN_xI


___Até quem não viu o filme, se é pedestre, já deve ter cansado de ouvir o rosnado dos carros. Atravessar na faixa, mesmo com o sinal fechado para os carros, é praticamente uma garantia de que algum motorista vai fazer o motor rugir, deixando claro para todos que não quer ficar ali parado.
___Dia desses, o divertido Classe Média Sofre publicou o “drama” de um “pobre motorista” que tem de aguardar “pacientemente” os “petulantes pedestres”.


Carrodependente


___Respondo para o sofrido carrodependente: Não, gênio, você simplesmente deveria ter parado completamente o carro. Inclusive, o ideal seria colocar o veículo em ponto-morto para deixar os pedestres passarem na velocidade que bem lhes interessar.
___Pedestre não tem de correr, nunca. Ou o quê? Velhinhas que usam bengala não devem nem sair de casa, é isso? Uma pessoa cansada por uma longa caminhada deve correr por conta da pressa de um idiota qualquer que está sentado confortavelmente, em um banco almofadado, dentro de um carro? A cidade é para os seres humanos, não para as máquinas.
___O que foi? Acham que é só o doido que apareceu no CMS que pensa assim? Acham que é só ele que vê os motoristas como as pobres vítimas dos maldosos pedestres? Deem uma olhada no que eu encontrei em um blog intitulado Sinal Vermelho Curitiba.


httpv://www.youtube.com/watch?v=kWyx9N6fTtk


___Se um motorista não está ciente que a prioridade é sempre do pedestre e nunca dos carros, que ele – que está portando uma máquina de mais de uma tonelada e que pode matar facilmente – é que deve zelar o tempo todo pela segurança dos pedestres, então esse motorista não deveria nem ter o direito de dirigir. Simples assim. Entretanto, infelizmente, um reluzente carro bonito pode muito bem esconder outra forma de se pensar.


Bonito por fora

8 de junho de 2011

Sou barato

___– Ulisses, você dá aula particular?
___– Sim, claro.
___– Oba! Podemos marcar? Quanto é?
___– Opa, podemos sim. Cobro cem reais hora/aula.
___– Nossa! Tudo isso? O outro professor daqui, o Renato, cobra metade do preço. 50 reais por hora.
___– Eu sei. Mas, eu sou umas 20 vezes melhor que ele. Se fosse pagar proporcionalmente, você pagaria uns 1000 reais por hora. Vê o descontão que eu dou?


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Nota 1: Infelizmente, a resposta final do diálogo nunca foi dita. Pensei nela, claro, mas não falei. Quase l'esprit de l'escalier. Não deixei de falar por pudor, por receio do que a outra pessoa iria pensar ou algo do tipo. Não falei porque sou uma droga negociando.
Nota 2: Antes que alguém diga que eu sou prepotente, arrogante ou algo do tipo, minha resposta está no fim desta postagem.

5 de junho de 2011

Presentes para o Czar

___Em 22 de janeiro de 1905, em São Petersburgo, uma multidão aproximou-se do palácio de inverno do czar. As tropas imperiais (provavelmente os ídolos da polícia paulista) abriram fogo contra os manifestantes indefesos. Esse massacre, episódio vergonhoso da história russa, ficou conhecido como Domingo Sangrento.


Domingo Sangrento (1905)


___O respeito à monarquia na região ainda era bastante grande –, tanto que a manifestação era pacífica. Além de uma petição com suas reivindicações, os populares carregavam retratos do Czar Nicolau II, ícones de santos, presentes e até cantavam “Deus salve o czar”, o hino imperial. A reação despropositada da guarda ainda é um exemplo dos deletérios efeitos de um governo que se afasta muito de como pensa sua população.


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___Como já anunciei aqui, estou prestes a mudar de estado civil. A partir do dia 10 de julho, passarei a morar com minha amada Marcela.
___Como estamos montando nosso apartamento do zero (e isso é muito caro), caminhamos naquela clássica peregrinação de mendigar presentes para parentes, amigos, conhecidos, políticos e líderes religiosos. Sendo assim, como qualquer ajuda é bem vinda, nada como aproveitar o momento e pedir para os meus leitores também.
___Temos duas listas, uma na Fast e outra na Camicado. Fiquem à vontade para fuçar nos gostos meus e da minha noiva, para conhecer um tanto dos nossos desejos materiais (alguns praticamente irrealizáveis) e para nos presentear, claro. Prometo que quem resolver me dar algum presente vai ser mais bem recebido do que o povo russo pela guarda do czar.

3 de junho de 2011

“Não existe nada mais Conservador do que um Liberal no poder”


___Ensinar História é algo que sempre dá certo trabalho. Alguns conteúdos, mais ainda. Falar sobre os principais partidos do Segundo Reinado brasileiro – o Liberal e o Conservador – explicando para os alunos que os nomes não representavam exatamente a posição política dos partidos, é um bom exemplo.
___Talvez condoídos com a situação dos pobres professores de História, os políticos brasileiros vivem a dar uma mãozinha para ajudar nesse tipo de conteúdo. Não é à toa que o partido DEM, vulgo “Democratas”, encontra suas raízes na ARENA, o partido dos militares à época da Ditadura.
___O exemplo mais recente do completo descaso com o nome do partido (e, teoricamente, com a sua filosofia) veio com o vergonhoso Novo Código Florestal. Não só a proposta foi apresentada por um membro do Partido Comunista do Brasil, o imbecil do Aldo Rebelo, como todo o restante do PCdoB acabou por votar a favor do Projeto de Lei.
___Compreendam: um pretenso Partido Comunista, um partido que teoricamente deveria lutar por uma sociedade igualitária, sem classes sociais, em que todos possam ter o controle dos meios de produção, etc., etc., não pode estar do lado dos interesses dos grandes proprietários. A Bancada Ruralista defende os interesses dos latifundiários, defende uma mudança na lei para anistiar quem desmatou mais terras do que deveria, tudo o que um partido de esquerda deveria lutar contra.
___Agora, peço licença, pois estou ocupado. Estou tentando entender como São Paulo pode ter um governador e um prefeito – do Partido da Social Democracia Brasileira e do Partido Social Democrático* respectivamente – que permitem que a polícia agrida livremente os cidadãos que não concordam com o governo.

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* Vale lembrar que o prefeito Kassab, antes, fazia parte dos Democratas.


1 de junho de 2011

Notícias de usuário sobre a greve do metrô de São Paulo – 1º/VI/2011 – 7h10min

___Estava marcada para hoje uma greve no metrô paulistano. Ontem à noite, nenhuma notícia concreta (e decentemente atualizada) sobre o assunto. Hoje, acordei meia hora mais cedo para procurar notícias pela internet: nada. Só mesmo o site do metrô dizia que a greve não iria rolar; entretanto, o meu bom senso me diz para nunca confiar completamente em um site do qual os trabalhadores estão ameaçando entrar de greve.
___Olhei no Twitter. Procurei as hashtags #metrosp, #grevemetro. Nenhuma notícia atualizada; todas com mais de 6 horas.
___Fui para o metrô. Nenhuma greve. A não ser dos usuários. Tudo estava funcionando perfeitamente e, como brinde para quem pegou o metrô, poucos usuários para o horário. Fiz a viagem inteira sentado.