31 de agosto de 2007

Ouvido educado

_____Tanta gente reclamou do novo dublador do Homer Simpson que até parece que esquecem que o Homer, aqui no Brasil, já teve outra voz que não a atualmente idolatrado Waldyr Sant'anna.

_____Hoje eu acabei cruzando com um videozinho muito interessante sobre isso, com a voz dos três homens que já dublaram o pai dos Simpsons: Waldyr Sant'anna (dublador nas temporadas 1 a 7 e 14 a 17), Júlio César (temporadas 8 a 13) e o Carlos Alberto (temporada 18 e Simpsons – O Filme), o atual. Vale a pena ouvir, comparar e refletir, pois, sinceramente, reclamar de uma mudança, só pela mudança não é algo tão válido assim.


28 de agosto de 2007

Como destruir seu filme com citações “elogiosas”

_____Na última sexta-feira, no guia de final de semana da Folha de São Paulo, publicaram a seguinte propaganda sobre o filme O ultimato Bourne:

O ultimato Bourne

_____Não sou muito fã das chamadas de meios de comunicação e afins que colocam nos pôsteres de filmes, ainda mais quando a citação começa com reticências e termina fechando a aspas sem o ponto final. Parece que esconderam alguma coisa. Na propaganda acima, por exemplo, por mais inviável que pareça, pode existir uma crítica antes da citação do Rubens Ewald Filho. Vamos imaginar que ele tivesse dito “O primeiro filme, A identidade Bourne, é que é de tirar o fôlego. Totalmente adrenalina também foi o segundo, A supremacia Bourne. Nesse terceiro, no entanto, eu quase dormi.”. Entendem o que quero dizer? Se tiraram a frase do contexto, vai lá saber se era realmente um elogio.

_____Pior ainda foi a outra chamada selecionada; a chamada da revista Época: “É a terceira melhor aventura”. Isso diabos é propaganda que se coloque em um pôster de filme?!? Como assim é a terceira melhor aventura? Isso significa que tem coisa melhor para você assistir (não uma aventura melhor, duas, diga-se de passagem)? Significa que os próprios publicitários que fizeram o cartaz do filme acharam que esse filme nem era tão bom assim que poderia sem problemas ficar em terceiro? Tenha santa paciência. Não acharam nada melhor (ou será pior?) para colocar no pôster?

_____Com uma propaganda duvidosa assim, não sei se vou assistir O ultimato Bourne. Já me diverti bastante com o cartaz mesmo, melhor nem arriscar me decepcionar com o filme. Vai que até o Rubens Ewald Filho dormiu...

27 de agosto de 2007

Nossa Idade Moderna

_____Em meados do século XVI os homens ligados ao movimento cultural conhecido como Renascimento nomearam a época em que viviam de Idade Moderna e aproveitaram para agredir o período anterior chamando-o de "Idade das Trevas" (a Idade Média, que os historiadores costumam marcar, classicamente entre 476 e 1453). A Idade Moderna (1453-1789) foi, realmente, muito diferente do Período Medieval*, e não é algo absurdo considerar os renascentistas como homens de vanguarda, como cabeças de lança de uma nova época.

_____Durante o último final de semana eu participei do BlogCamp, evento que reuniu alguns blogueiros para debater sobre assuntos de interesse comum à blogosfera. Mesmo com certos problemas (era só bobear um pouco que qualquer assunto degringolava para monetização dos blogs), o evento foi bem válido: foi ótimo ver pessoas inteligentes e que sabem se colocar muito bem (o Edney, vulgo Interney, merece todo o respeito que ganhou), piadas contadas na hora certa (o Cardoso sabe contar piadas ao vivo quase tão bem quanto nos textos), conhecer pessoas muito legais (a da oferecida pelo boo-box.

BlogCamp SP 2007

Foto do primeiro dia de evento (comigo no fundo).

_____Entretanto, o mais interessante de tudo foi notar a consciência que os blogueiros em sua maioria têm de que os blogs fazem parte de um movimento de vanguarda. Não estou dizendo que os blogs realmente têm essa importância toda (muito menos que não têm), estou apenas querendo deixar esse fato claro (ou mais claro) como um ponto importante de reflexão.

_____Ainda vai ser necessário um bom tempo para se dizer se essa geração de blogueiros realmente fez alguma diferença nas mudanças culturais do nosso tempo. E vale a pena dizer que, apesar da fala exaltada de muitos contra a imprensa (graças a ainda recente polêmica do Estadão), eu espero que a prepotência característica dos blogueiros não nos deixe cometer o erro de agredir tanto o período que nos antecedeu a ponto de chamá-lo de “Idade das Trevas” e esquecer tudo de bom que herdamos dele.

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* Apesar da minha afirmação, vale a pena conhecer o texto “Por uma longa Idade Média”, de Jacques Le Goff, historiador francês, que, entre outras coisas, defende que podemos considerar a medievália como um período mais longo.

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Foto: Carlos Cardoso.

25 de agosto de 2007

Daqui a pouco, nas manhãs do BlogCamp

Logo do BlogCamp
_____Em 15 minutos estarei saindo de casa para ir ao BlogCamp, encontro de blogueiros que irão se reunir no Gafanhoto (avenida Rebouças, 3181, São Paulo) para debater, teoricamente, assuntos relevantes para os interessados em macaquices blogs. O BlogCamp vai começar hoje, às 10h, e terminará amanhã, domingo, às 17h. É uma pena, mas, como trabalho em uma academia de dança de salão nos finais de semana (por que será que as pessoas gostam tanto de dançar durante os finais de semana?), só poderei participar do evento durante as manhãs. Pelo menos poderei realizar uma interessante pesquisa antropológica: vou descobrir se os blogueiros que ficam a noite toda vendo pornografia navegando na internet conseguem acordar cedo.

24 de agosto de 2007

Como deixar de ser gay

_____Você é homossexual? Quer deixar de ser gay? Não imagina de onde essa doença pode ter vindo? Quer evitar que seu filho trilhe esse pavoroso caminho? Sem problemas, a solução é simples e o livro abaixo pode ajudá-lo.

_____Provocações de primeiro parágrafo a parte, achei que valeria a pena uma postagem para mostrar uma parte do horrível livrinho infantil que encontrei pela internet (aqui para ser mais exato). O livrinho tem um texto fácil e é ilustrado e, como normalmente fazem os defensores de valores morais mais do que distorcidos, tratam suas idéias da maneira mais unilateral possível, com soluções fáceis e diretas, como se não existisse nenhum questionamento sobre nada. Qualquer semelhança com a educação nazista, não é mera coincidência. Vejam do que falo:

Cura 1

Cura 2

Cura 3

Cura 4

Cura 5

Cura 6

Cura 7

Cura 8

Cura 9

_____É absurdo e preconceituoso? Sim. Entretanto, mais espantoso do que isso são as soluções bobas apresentadas. Como se o mundo pudesse ser encarado assim.

_____Alguém vai me dizer que eu sou exagerado? Que as coisas são expostas assim por se tratar de um livrinho infantil? Vejam parte de um texto de Plínio Correia de Oliveira, fundador do TFP (o Tradição Família e Propriedade), falando sobre História do Brasil:

Quando se fala de tradição, o que logo ocorre a grande número de pessoas é a Inglaterra atual, com a Rainha, a Câmara dos Lordes, as Rolls-Royce, os chapéus-côco, a distinção e a fleugma britânicas. Como fundo de quadro, a palavra evoca reminiscências brasileiras de tempos mais remotos. Assim os patriarcais casarões de fazendas com seus terreiros, suas palmeiras e as senzalas próximas. Ou a quinta da Boa Vista, as barbas brancas de D. Pedro II e o sorriso afável de Da. Teresa Cristina. E ainda o Rio plácido e galhofeiro da I República bem como a São Paulo aristocrática e circunspecta, familiar e divertida, da alta do café. Tudo isto sem esquecer a Bahia vivaz e indolente, gulosa e musical, que ostentava, mais ou menos na mesma quadra, as galas antigas dos tempos dos governadores Gerais e as fulgurações, então ainda recentes, da nomeada de Rui Barbosa. E a Minas incomparável do Aleijadinho, cuja expressão máxima são, a meu ver, os profetas majestosos e coléricos da escadaria de Congonhas do Campo. (grifos meus).
_____Encarando o passado assim sem conflitos ideológicos, sem desigualdade, como se todas as pessoas das épocas citadas fossem felizes e tivessem uma vida boa é moleza imaginar um mundo belo e de soluções fáceis, como o do livrinho... Em um mundo assim, deve ser possível “curar” um homossexual.

21 de agosto de 2007

Olhos atentos

_____Preocupado com a falta de dinheiro que de maneira quase que perene me assola, meu avô costuma procurar vagas para professores nos classificados dos jornais e me ligar para passar informações. Mais do que a necessidade de emprego, fico contente pela atenção e preocupação do meu avô para comigo.

_____No último domingo, meu avô me ligou, disse que tinha apenas um anúncio e recitou o endereço. Para minha surpresa, o local que procurava professores era em um boulevard ao lado do meu prédio (ao lado mesmo, é só sair do prédio e andar uns dez metros). Eu nunca imaginei que havia algo ligado com Educação naquele local, achei que lá só tinha uma vidraçaria, um cabeleireiro caríssimo, um centro de terapias orientais e coisas do tipo. Como trabalhar tão perto de casa pode ser, sem dúvida, bastante cômodo, mesmo achando estranho, por volta das 10 horas da manhã do dia seguinte fui para o boulevard.

_____Ao chegar em frente ao endereço anotado, descubro que se trata da vidraçaria. Ao perceber minha cara de perdido, um simpático funcionário que estava de serviço naquele momento, vira e pergunta se quero ajuda. Meio abobalhado, falo que estou lá por causa de um anúncio de emprego e o rapaz diz que vai chamar a responsável (quando ele disse que iria chamar alguém, fiquei com mais cara de bobo ainda).

_____Uma senhora com cara de saco-cheio chega e aponta um lugar para eu sentar, pede meu currículo e, depois de alguns segundos passando os olhos por ele pergunta “Você veio para a vaga de programador?”. Com a maior cara de nabo do mundo, pergunto: “Mas, a vaga não é para professor?”. Segurando o riso, a moça responde que não e eu tento explicar que meu avô que viu o anúncio e que ele deve ter se confundido (e ela com a maior cara de descrente). Saio da vidraçaria ouvindo a moça gargalhar atrás de mim.

_____Acho que eu deveria ser um netinho melhor e levar o meu avô que tanto se preocupa comigo ao oculista.

19 de agosto de 2007

Excelente auto-estima

_____Ter uma boa auto-estima é ótimo em diversos momentos e, hoje, algo que me aconteceu faz com que eu chegue à conclusão de que tenho uma auto-estima excelente.

_____Eu estava saindo para dançar com minha namorada (sou dançarino de dança de salão, caso alguém não saiba) e quando estávamos a uns dois quarteirões da academia de dança para a qual iríamos, percebi que duas garotas bonitas andavam à nossa frente. Minha namorada, que andava ao meu lado, é linda. O único feio desta história sou eu.

_____Pois bem... Caminhamos por um tempo com as garotas um pouco a frente. Então, bem alto, atrás de nós, vem um assovio – aquele clássico som para chamar a atenção de alguém bonito que está passando: “fiu-fiu”.

_____É... Vejam só: duas garotas bonitas à frente, uma outra bonita um pouco atrás delas e eu, o único bem longe dos padrões de beleza contemporâneos para completar o quarteto. Adivinhem quem foi o único dos quatro a olhar. Eu! Vocês não acham que minha auto-estima anda muito alta?

18 de agosto de 2007

O deus Celular

_____Eu estava em um momento razoavelmente tenso do meu dia. A diretora de um dos colégios em que leciono estava fazendo escândalo, dando bronca nos professores por um assunto idiota qualquer como “Os diários tem de ser preenchidos com antecedência!” (por que eu nunca vejo uma diretora dando bronca dizendo “Vocês devem dar aulas melhores!” para o bando de professores ruins que existem por aí?). De repente, toca o celular do professor de Química. Ela para de falar por um momento, ele atende o celular e diz Não posso atender agora, estou em uma reunião.” e desliga para ouvir a continuação da bronca da chefe com o resto dos professores (diga-se de passagem, se a bronca passasse a ser sobre deixar celular ligado em ambiente escolar, que poderia tocar na sala e dar mal exemplo para os alunos, eu iria concordar, mas não passou a ser).

_____Alguém pode me explicar qual o sentido disso? Se o infeliz não podia “atender agora”, porque atendeu? A pessoa que estava ligando, quando ninguém tivesse atendido, perceberia que o maldito não podia atender naquele momento e deixaria um recado, caso fosse necessário. Mas, não, o cara atendeu, não deixou a pessoa falar o que precisava e desligou. Existe alguma lógica?

_____Será que os celulares são como deuses mitológicos que ficam enfurecidos se os súditos não lhes dão atenção? Não tocar no celular, naquele momento em que ele chama, pode significar uma desgraça?

_____Por exemplo, no penúltimo canto da Ilíada, de Homero, dois gregos disputam qual tem melhor pontaria, tentando atingir uma pomba presa em um mastro:

Ilíada, de Homero

“Teucro possante, / bem como o claro Meríones, sócio do chefe cretense. / Postas as sortes num elmo de bronze, e agitando-o o Pelida*, / salta a de Teucro em primeiro lugar. O guerreiro dispara / com decisão varonil, sem primeiro fazer a promessa / a Febo Apolo de tenros cordeiros no altar imolar-lhe. / O alvo, por isso, ambiciado falhou, que o frecheiro lho impede, / só conseguindo atingir o cordel junto ao pé da avezinha. / Foi seccionado o cordel pelo corte da seta amargosa. / Cai para o solo a porção do cordel presa ao mastro, librando-se / no éter a tímida pomba; os Acaios a rir disparam. / Das mãos de Teucro Meríones o arco arrancou, apressado, / pois de antemão uma seta aprestara, enquanto ele atirava, / e a Febo Apolo, o frecheiro, promete, sem perda de tempo, / uma hecatombe de tenras ovelhas no altar imolar-lhe. / No alto, entre as nuvens, percebe a voltear a medrosa pombinha; / numa das voltas a atinge; no peito, sob a asa, acertando-lhe; / a flecha o corpo lhe passa, e, na volta do tiro certeiro, / se vem fincar ante os pés de Meríones.” (Ilíada, Homero. Canto XXIII, v. 859-877. Grifos meus).

_____Teucro, o grego que esqueceu de fazer promessas a Apolo, o deus arqueiro, erra o alvo (“que o frecheiro lho impede”). Entretanto, Meríones, sem deixar de dar atenção ao deus, lança a flecha e, obviamente, acerta. Com os celulares deve ser a mesma coisa: quando ele toca, caso o fiél não atenda, talvez o deus Celular tire a capacidade do infeliz de se comunicar.

_____Apesar de que, sinceramente, eu gostaria muito que Lara, a deusa romana do silêncio, fizesse mudo o próximo escravo de celular que deixasse o telefone tocar no cinema e ainda atendesse, dizendo “Não posso atender agora, estou no cinema.”. Juro, ó gloriosa Lara, caso você tire a fala do próximo mal-educado que atender o celular em uma sessão em que eu estiver presente, eu irei imolar a você uma hecatombe de tenras ovelhas.

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* Referência a Aquiles, filho de Peleu.

15 de agosto de 2007

Estímulo

_____Olha que gracinha... Esse Ulisses estimula as crianças a comer.

Intervalo comercial

_____Este, a estudar. Que coisa mais meiga...

14 de agosto de 2007

Aprendendo com os profissionais


Sabendo ganhar dinheiro

_____Dos blogs que acompanho, dois tem como temática central ajudar outros blogs a ganhar dinheiro: o Contraditorium, do Carlos Cardoso, e O fim da várzea, do Noronha. Acompanho esses blogs mais pelos bons textos do que para lucrar (não que eu não queira ganhar dinheiro. Se alguém quiser me dar algum, avise que eu mando o número da minha conta... ou pode procurar uma propaganda interessante do Google aí em cima para clicar que também ajuda). Entretanto, os dois ainda não adotaram uma tática tão eficiente para encher os bolsos como a que eu vi hoje. Eles estão precisando maltratar um pouco mais a clientela deles.

_____Vou explicar. Hoje de manhã fui com minha mãe ao Shopping Market Place, para ir ao Banco Real – ABN AMRO, banco em que ela tem conta. Ela iria retirar uma quantia grande, pedir uns cheques administrativos e outras bobeiras bur(r)ocráticas que eu não entendo, nem quero entender. Receosa porque pretendia sair do banco com uma quantia grande de dinheiro, minha mãe pediu para eu acompanhá-la.

_____Quando chegamos ao banco, o horror, o horror: só havia UM caixa. Não, não estou dizendo que havia apenas um funcionário atendendo nos caixas, estou dizendo que havia, ou melhor, que há apenas UM caixa no Banco Real do Shopping Market Place. Apenas um.

_____Mesmo sabendo que o banco estava aberto há apenas de meia-hora, a fila do único caixa não estava pequena. Quando minha mãe chegou ao caixa, para fazer as transações que tinha planejado, a fila piorou ainda mais, pois, teoricamente, não eram coisas simples. Como minha mãe ainda tinha de falar não sei o quê com a gerente (e também demorou bastante para ela ser atendida pela gerente), perguntei para um funcionário o motivo para o banco ter apenas um caixa.

_____– Pois hoje são poucas as operações que podem ser feitas apenas no caixa – respondeu o funcionário.

_____Poucas...? O que minha mãe havia ido fazer, só poderia ser feito no caixa. E eu acho que nem todos naquela fila eram masoquistas (mesmo achando que o dono do banco pode ser sádico). Só que o funcionário ainda completou.

_____– Sem contar que nós ainda tivemos que tirar o espaço dos caixas para o nosso atendimento preferencial, os Serviços Van Gogh – e, realmente, a parte destinada aos Serviços Van Gogh estava cheia de funcionários prontos para atender algum cliente que por acaso aparecesse.

_____Ah, entendi. Mesmo com todos os cliente pagando, apenas os clientes VIPs podem ser bem atendidos. Apenas aqueles que pagam um extra e têm uma “remuneração mensal acima de R$ 4 mil ou com investimentos acima de R$ 40 mil”. Parece tão absurdo quanto uma editora ter de pagar “para que um livro ocupe espaço nobre em... preciosas estantes e vitrines [de livrarias].”*

_____O Cardoso e o Noronha podem aprender muito com bancos assim. Já pensaram, rapazes, em disponibilizar apenas algumas linhas por dia dos textos de vocês escrevem para os leitores pobres e os textos completos, no mesmo dia, para os leitores VIPs? Os leitores VIPs ainda podem ter o direito de conversar diretamente com vocês pelo MSN. Os pobres podem escrever uma carta (os comentários mal-humorados do Cardoso ele pode disponibilizar para todos ;-)).

_____Os clientes VIPs, os clientes Van Gogh têm sempre uma orelha do banco (ou do blogueiro) para dar atenção a eles. Os clientes normais (que também pagam nos bancos, vale lembrar) não têm nenhuma.

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* Jornal O Estado de São Paulo, retirado do artigo “Eu sou baixinho!”, do Branco Leone.

13 de agosto de 2007

Quase um lorde

_____Ela não conseguia entender. Estava ficando com mais raiva a cada passo que davam. Enquanto eles se aproximavam da entrada da sala de cinema, aquele barulho irritante da sacola do mercado parecia aumentar mais. Ele, então, apontou um lugar. Eles sentaram e ela começou a desligar o celular, tentando se concentrar para não ficar com mais raiva. Porém, mal o celular havia desligado, ela percebeu que a situação era bem pior do que havia pensado. Ele estava tirando da sacola do mercado o saquinho de balas e uma barra de chocolate.

_____Quando ele a convidou para sair, Lara ficou excitadíssima. Fazia meses que ela se derretia por ele: apesar de um pouco desleixado, ele era educadíssimo, quase um lorde. Quantas boas maneiras. Sempre que andavam juntos ele fazia questão de abrir as portas e ceder passagem a ela depois. Nas reuniões ele sempre tirava o som do celular e ela nunca havia visto ele atender o aparelho enquanto conversava com alguém. Até puxar a cadeira para ela sentar ele já havia puxado.

_____O que ela mais gostava, no entanto, eram as conversas que eles tinham sobre cinema. Cinéfila como era, Lara nunca se aproximava de um homem que não se interessava pela sétima arte. Afirmar o contrário seria mais correto. Ela já havia se afastado de muitos por não gostarem de cinema tanto quanto ela. E já havia se afastado de outros por não saberem se portar no cinema. Tentar beijá-la durante o filme e fazê-la perder um só segundo da trama era motivo para nunca mais sair com um cara. Celular tocando durante a sessão, então, nem se fala. O último ela havia deixado sozinho dentro da sala, assim que o filme havia acabado porque ele insistiu em tentar conversar em alguns momentos do filme.

_____Ir para o cinema com um homem era, para Lara, um ritual de iniciação para um relacionamento. Se ele agisse da maneira correta durante o filme, ela, assim que os créditos terminavam de passar, beijava o rapaz. Lara acreditou que, educado e, também, cinéfilo, ele poderia ser um sério candidato a ganhar um beijo no fim do filme. Só que quando ela chegou à bilheteria do cinema, o ponto de encontro, ele não só segurava um barulhento saco de mercado, como, também, disse: "Comprei aquelas balinhas que você tanto gosta para comermos durante o filme.".

_____Ela adorava quando ele levava para ela, nas manhãs de trabalho, aquelas balinhas de goma. Entretanto, o cinema não era lugar para aquilo. Ele não percebia o quanto aquele saquinho de balas fazia barulho? E aquele chocolate que ele estava abrindo? Era todo envolto em alumínio. Isso era insuportável. Ela tinha de reclamar antes que o filme começasse. E esse cara, Lara já sabia, não ganharia beijo no fim. Mal educado!

_____– Você não percebe que o chocolate está envolto em alumínio? – disse Lara, no tom mais severo que pôde. – Vai fazer um barulho insuportável durante o filme.

_____Ele, enquanto largava o chocolate no colo e começava a abrigar cuidadosamente o saquinho de bala aberto no segurador de copos da cadeira, virou para ela e disse:

_____– Por isso que eu abri o chocolate antes. Até já quebrei ele em partes. Agora deixo no meu colo, aberto, e fica fácil de pegar sem fazer nenhum barulho. – E, sorrindo, acrescentou, – Coloquei o saquinho de balas assim pelo mesmo motivo. Você pode pegar as balas sem precisar tocar nesse saquinho barulhento.

_____Lara não esperava essas respostas. Foi maravilhoso ouvir aquilo. Não teve outro jeito. Ela o beijou naquele mesmo momento, antes do filme começar... e continuou beijando até o início dos trailers.

P.S.: O Branco Leone pode não ser um lorde, mas, se você conhecer alguém educado para assistir silenciosamente com você, hoje ele dará um entrevista, daqui a pouquinho, às 20h, na allTV (uma TV virtual, é só clicar aqui, às 20h, e assistir). Já falei o quanto acho o Branco divertido e, para completar, ele ainda disse que vai distribuir uns livrinhos de presente para quem participar virtualmente do programa. Aproveite.

12 de agosto de 2007

Feliz dia dos pais

_____O cartunista de maior sucesso entre os blogueiros brasileiros ultimamente é, sem dúvida, o André Dahmer. Famoso no meio, o Dahmer sempre é citado (até eu já o fiz) e, vale dizer, de maneira mais que merecida. Entretanto, ele não é o único que merece atenção. O Leonardo, cartunista-blogueiro novo na praça (nem tem seis meses que ele fundou seu blog Rasura livre - apesar de publicar na imprensa clássica bem antes), merece respeito. O cara manda muito, muito bem. Se alguém duvida, nada melhor do que apreciar a homenagem dele ao dia dos pais.
Clima tenso


10 de agosto de 2007

Primeira semana de aula

_____Belo modo de terminar a semana...
_____Assim como para outros professores, esta foi minha primeira semana de aula após minhas duas semanas de “férias”. Foi maravilhoso rever meus alunos antigos e conhecer os meus novos alunos dos cursos semestrais. Eu só gostaria de não ter feito a bobagem de falar muito alto e dormir pouco para terminar minha semana rouco.

7 de agosto de 2007

Meus casos com Brecht

Cia do latão

Companhia do Latão na montagem de O círculo de giz caucasiano.

_____Tenho gratas lembranças dos encontros que tive com Bertolt Brecht durante minha vida. Quando conheci o autor eu era bem menino e minha família era (e ainda é) bem direitista. Ler alguém que não pensava como as pessoas que me rodeavam foi um alívio. Além disso, no início de minha carreira como professor, eu lecionei em um cursinho para formação de militares e fui maluco a ponto de levar um grupo de alunos meus para ver uma peça do Brecht. Foi maravilhoso debater com jovens militares, revoltados com o que tinham visto no palco, e mostrar uma visão diferente de mundo para eles. Para completar, existe um famoso poema do Brecht – que adoro usar em meus cursos – que costuma causar um impacto interessantíssimo nos alunos (não é um texto de blog, mas, se alguém se interessar, posso postar aqui uma questão que gosto de fazer com o poema dele).

_____No sábado fui convidado para a reestréia da montagem da peça O círculo de giz caucasiano, feita pela fabulosa Companhia do Latão, e, pelo visto, meus bons contatos com Brecht prosseguem. Fiquei contente tanto pela entrada gratuita, quanto pela ótima montagem que acabei assistindo.

_____Se você é daqueles que choraminga que o teatro não é mais como "era", que as montagens não são mais as mesmas, essa é a sua chance: o modo como o texto é trabalhado no palco é excelente. Se você é daqueles que vai ao cinema, mas não ao teatro por achar que o teatro não é tão "completo", é a sua chance de ver uma peça realmente completa: música (como em todas as peças do Latão que eu assisti), ótima adaptação do texto, cenário atípico, interpretações muito boas, uma montagem para lá de respeitável. Se você só vai ao teatro para ver artistas famosos, vá ver a Cia do Latão, uma das companhias de teatro mais famosas do Brasil, e descubra a diferença entre esses famosos e os famosos televisivos. Se você só sai de casa para sacanagem, aproveite que tem nudez.

_____Entretanto, se você não pega um livro para ler porque acha que ele é muito grande (ou se você nunca pega livro nenhum – por que mesmo que você está lendo um blog?), não vá. A peça tem mais de três horas de duração, você não vai agüentar. Talvez não seja a hora de você ter um caso com Bertolt Brecht.

P.S.: A Companhia do Latão acabou de completar 10 anos e abriu uma sede própria na Vila Madalena, o Estúdio do Latão (rua Harmonia, 931, telefone 3814-1905). O círculo de giz caucasiano, contudo, está em cartaz no Tusp (rua Maria Antônia, 294, telefone 3255-7182) toda sexta, sábado (às 21h), e domingo (às 20h). Tudo em São Paulo.

6 de agosto de 2007

Sete minutos

_____Depois que publiquei a última postagem (“Neurótico e nervoso”) acabei me lembrando da peça Sete minutos, escrita e interpretada por Antônio Fagundes. Eu vi a peça faz muito tempo e ela não está mais em cartaz. Procurei o texto para disponibilizá-lo para os meus leitores, mas também não encontrei. Lançaram um DVD com a peça (não sei como ficou a edição em DVD, pois só vi a peça ao vivo), mas está fora de catálogo. A única solução que dou aos interessados é alugar. Para quem mora em Sampa, na locadora perto da minha casa tem.
Sete minutos

_____O foco central da peça é expor a falta de respeito de algumas pessoas da platéia que acabam atrapalhando os outros espectadores e até os próprios atores no palco. O compromisso dos atores com a crítica feita pelo texto era tão grande que os anúncios da peça nos jornais continham a seguinte advertência: “Chegue com 30 minutos de antecedência ao teatro. O espetáculo começa rigorosamente no horário marcado. Não haverá troca de ingressos ou devolução de dinheiro em caso de atraso.”. Aviso muito justo e correto. Quando fui, a peça começou exatamente no horário marcado e ninguém mais entrou após o toque do terceiro sinal. Pena que tal prática não seja comum.

4 de agosto de 2007

Neurótico e nervoso


_____Apesar do vídeo acima conter uma das minhas cenas preferidas do filme Annie Hall (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, Woody Allen, 1977), a cena com a qual mais me identifico é a do vídeo abaixo. Annie Hall (Diane Keaton), a noiva de Alvy Singer (Woody Allen), chega atrasada ao encontro de modo que, quando o casal chega à bilheteria, a vendedora informa que o filme já começou há dois minutos. Alvy, então, recusa-se a entrar no filme.

_____Assim como a personagem de Woody Allen, não suporto entrar em um filme depois que ele já começou e considero campeões da falta de respeito aqueles que entram. O cinema não é sua casa e nada dá a você o direito de atrapalhar aos educados que chegaram no horário anunciado para o início da sessão. Depois que as luzes apagarem, não entre. Se for em uma peça de teatro, então... acho que nem preciso comentar.

_____Aproveitando que falei de teatros, alguns cinemas de São Paulo estão adotando a política dos lugares marcados. A idéia tem seu lado bom. Não acho que alguém deve pegar uma fila para comprar um ingresso e, depois, outra para conseguir pegar um bom lugar. Entretanto, essa novidade estimula algumas pessoas mal educadas a entrarem atrasadas no cinema. Sabendo que seu lugar já está reservado, alguns infelizes entram muitos minutos após o apagar das luzes e ficam a procurar os lugares que compraram. É insuportável.

_____Como gosto de ir ao cinema entre segunda e quinta-feira, dias mais vazios, as filas nunca foram um grande incomodo para mim. Os lugares marcados, por outro lado, acabaram me incomodando bastante dia desses.

*****

_____Fui ao Cine Bombril em uma tarde de terça. Como eu sei que o Cine Bombril não costuma ficar lotado (muito menos em uma terça a tarde), cheguei ao cinema uns três minutos antes do horário anunciado para o início da sessão. Desci as escadarias da bilheteria correndo e, então, parei, pois duas amigas estavam na minha frente comprando ingresso. A moça da bilheteria, após a raparigas terem dito qual filme assistiriam (o mesmo que eu), perguntou:

_____– Quais lugares vocês querem?

_____Apesar de 98% dos lugares estarem livres, as duas ficaram discutindo entre si qual lugar elas preferiam... e o tempo passando. As luzes apagaram segundos depois de minha entrada na sala (na frente das duas amigas, pois fui correndo para dentro do cinema após comprar meu ingresso).

_____Eu entendo que é a nova política do cinema vender ingressos com lugares marcados. Porém, a sala estava vazia e o filme iria começar em poucos minutos, não era necessário perguntar qual lugar a pessoa prefere (tanto que, para adiantar a vendedora, entreguei meu dinheiro, falando “Cadeira A-1!” e, obviamente, sentei em outro lugar qualquer).

_____Tudo teria terminado bem se, segundos depois dos trailers acabarem, um homem não houvesse entrado, acompanhado de uma garota. Após procurarem seus lugares e sentarem bem ao meu lado, o macho alfa passou o resto do filme falando para a moça tudo que ele “entendia” sobre cinema europeu. Amigos meus, se a vida se parecesse mais com um filme do Woody Allen... Eu, simplesmente, mudei de lugar.

1 de agosto de 2007

Provas com blogs (parte III)

_____Continuando a série “Provas com blogs” (introdução, parte I e parte II) vou publicar algumas questões que formulei mentalmente ao ver uma charge publicada no blog quadrinho ordinário, do Rafael Sica, e que, talvez, eu ainda aplique em alguma sala.
*****
_____A charge:

capital-color

Rafael Sica, do blog quadrinho ordinário, em 17/VII/2007
*****
_____As questões:
_____Provavelmente, para uma sala em que eu estivesse debatendo sobre escravidão, eu colocaria a charge e perguntaria algo assim:

_____Explique a charge acima tendo como base as discussões feitas em sala.

_____Em uma sala em que eu estivesse ensinando sobre capitalismo ou mesmo que eu tivesse falado sobre “Acúmulo de capital” eu poderia colocar a seguinte questão:

_____Utilizando a charge acima, explique o que significa a a expressão “Acúmulo de capital”.

_____Ou:

_____Demonstre alguma característica do capitalismo existente na charge de Rafael Sica.

_____Mas, a charge é tão bem pensada que, sinceramente, tenho vontade de pedir uma explicação pura e simples como, por exemplo:

_____Interprete a charge acima.

_____Será que é pegar muito pesado com estudantes do Ensino Fundamental ou Médio?