28 de dezembro de 2013

Convencido pela Política

___Eu não sou uma celebridade. Nem mesmo uma celebridade virtual. (A opinião da minha mãe, claro, não conta.) Mesmo assim, um monte de gente interessante já leu o que eu escrevo neste blog. E muitos desses leitores já me perguntaram qual é o meu Twitter. Sempre respondi que eu não tinha e não planejava ter. Só que agora eu fui vencido. ConVencido pela política.

Twitter

___Tenho o hábito de, periodicamente, escrever para alguns políticos. Quando um político que eu acompanho falta muito, acontece algum caso político interessante, um projeto de lei que me interessa foi modificado e assim por diante. Considero algo útil a se fazer e, na maior parte das vezes, as respostas são bem completas e informativas. Podem até me dar informação para não votar mais naquele ser. 
___Quando escrevo para uma pessoa qualquer, não costumo esperar resposta. As pessoas não são obrigadas a me responder nada. Mas, em minha opinião, os políticos têm de responder para a população. Se não todos, no mínimo os do Legislativo. 
___A resposta não precisa ser escrita pelo político. Um assessor, secretário ou coisa do tipo, pode muito bem responder –, desde que a resposta esteja condizente com as atitudes do político e que o político se responsabilize por elas. 
___É exatamente por isso que quando um político não me responde, depois de mais ou menos um mês, eu escrevo cobrando. Se continua sem resposta, abandono-o como eleitor. 
___Desta vez, quando escrevi novamente para o político, ele respondeu se desculpando e disse que, se a assessora dele demorar novamente para me responder, para que eu mandasse uma mensagem pelo Twitter pois é ele mesmo que o acessa. Pesei os pontos: tendo um twitter, eu poderia falar com os políticos por mais de um meio; sem contar que, nas eleições de 2014, é bem provável que tudo que é candidato arrume, no mínimo, uma conta no Twitter
___Portanto, queridos leitores, quem queria me ver no Twitter pode agradecer aos políticos. Não sei muito bem como usar aquilo ainda. De qualquer modo, quem quiser me ver por lá também, o endereço é http://twitter.com/incautosdoontem. Mas é bom dizer: eu ainda gosto mais de escrever aqui. 

27 de dezembro de 2013

Arte: bater e correr

___Um dos problemas de dedicar várias salas de um museu para colocar obras de apenas um artista, é que são necessários muitos trabalhos para ocupar os espaços – e nem todo artista tem tantas obras tão boas assim. Alguns museus, no fim das contas, tem até de apelar para inúmeros rascunhos para ocupar os espaços. Uma das vantagens é que o público consegue conhecer uma boa parcela da obra do artista e pode até formular opiniões mais aprofundadas sobre seus trabalhos. 

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___A Pinacoteca do Estado de São Paulo dedicou, até o final de fevereiro, um espaço bem grande para as obras de Antonio Henrique Amaral. Eu, que nunca havia ouvido falar do trabalho do moço, fiquei bastante satisfeito de conhecê-lo.

Antonio Henrique Amaral: Consensus, 1967
Consensus, 1967 

___Cada sala da exposição marca uma época da carreira do artista, começando com o final da década de 1950 e indo mais ou menos até os dias de hoje. O interessante é que é possível perceber fortemente como o posicionamento político do autor era claro e duro nas primeiras obras (ou quando ele estava fora do Brasil)* e vai se tornando mais abstrato com o passar do tempo. Quanto mais abstrato, mais difícil de perceber a crítica – e mais seguro também.

Antonio Henrique Amaral: Campo de batalha G2, 1976
Campo de batalha G2, 1976

___Boa parte das obras ataca duramente a Ditadura Militar. Outras, por segurança ou por falta de capacidade minha para interpretar, são tão abstratas que foi bem difícil tirar algo delas. Como, por exemplo, as obras da década de 1980.

Antonio Henrique Amaral: Árvore, 1982
Árvore, 1982

___Acredito que nas últimas obras, mesmo sendo bem mais abstratas, é até possível perceber uma crítica à sociedade contemporânea, a hábitos de consumo e coisas afins. Mesmo assim, parecem trabalhos bem mais leves que aqueles que atacavam o Regime Militar. De qualquer modo, vale bem passear pelas salas para comparar as obras.

Antonio Henrique Amaral: Monitor, 1987
Monitor, 1987

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P.S.: Aproveitando o assunto, no Memorial da Resistência (na Estação Pinacoteca) está acontecendo uma exposição com uma cronologia maravilhosa sobre os Os Advogados da Resistência, falando sobre a atuação dos advogados e da “Justiça” nos períodos ditatoriais.  

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* De 1971 a 1981, Antonio Henrique Amaral morou em Nova Iorque. 


25 de dezembro de 2013

O inferno é a falta de atenção dos outros

___Neste natal eu doei muitas das minhas roupas. Não que o espírito natalino tenha feito de mim uma pessoa melhor – digna de aparecer em um conto de Dickens –, simplesmente as férias permitiram que eu arrumasse o meu armário. Peguei algumas roupas que eu não usava desde que casei, coloquei-as dentro de uma mala de viagem e fui pegar o metrô para comer a ceia de natal com o meu irmão. 
___Como eu bem sabia, na plataforma da estação Trianon-Masp, ao lado da cabine dos funcionários, havia uma caixa para doações de roupas. Parei ao lado dela, abri a mala e, antes de colocar algo lá dentro, olhei. Para o meu espanto, vi que alguém havia jogado um sanduíche dentro da caixa. E não era um sanduiche novo, deveria estar lá há algum tempo. Coloquei umas três, quatro calças na parte limpa da caixa e peguei o metrô.
___Na estação Sumaré havia outra caixa perto das catracas. Nessa alguém havia jogado um chiclete. Resoluto, coloquei um saco plástico em cima do chiclete e depositei o restante das roupas. 
___Será que confundiram as caixas de doações com o lixo? Uma delas está posicionada ao lado das lixeiras, a outra a uns vinte passos de distância. Será que, mesmo com as palavras “Doações de roupas” escritas em letras grandes, alguém não percebeu e jogou um sanduíche? Penso na hipótese da distração porque me parece quase inconcebível que alguém, de propósito, jogue lixo em uma caixa de doações. 
___Também me parece inconcebível que alguém cuspa em uma criança de rua, chute um cachorro, dê uma garrafada em uma garota de programa ou taque fogo em um mendigo. Só que isso acontece. Existem pessoas que fazem isso. Por que, então, alguém não jogaria, de propósito, um sanduíche em uma caixa de doação? Mas, como eu nem imagino o que fazer com um imbecil desse tipo (ou com agricultores ricos que querem tirar terras de indígenas), vou voltar à hipótese da falta de atenção. 
___Eu entendo que a distração pode atrapalhar. Seu problema pessoal pode ser tão grande que você nem olhou direito para aquela caixa do metrô. Só viu a caixa, pensou que já era hora de parar de mastigar o seu chiclete e cuspiu. Não passou muito mais coisas pela sua cabeça. Assim como você não pensou em mais nada antes de jogar fora aquele sanduíche que não queria mais. Simplesmente você não prestou atenção. 
___E também não pensou naquele homem maltrapilho passando fome. Diga-se de passagem, você nem o vê direito, porque se você pensasse mesmo nos problemas dele e de todos os outros maltrapilhos que existem pelo caminho seria quase impossível andar por São Paulo.
___A falta de atenção com os outros é apenas um sintoma das doenças que fazem a nossa sociedade ser mais podre ainda. Inclusive a minha falta de atenção com as roupas no armário. Se não fosse a minha preguiça, elas poderiam ter sido arrumadas – e doadas – faz muito tempo. Alguém que estava precisando daquela calça poderia já estar com ela. Outras pessoas poderiam estar até com algumas das roupas que ficaram no armário após a arrumação. Só que eu não pensei nelas na hora que eu organizei o armário. Não dei a devida atenção aos problemas que não eram meus. Assim como a pessoa que jogou o sanduíche na caixa de doações de roupas. 


21 de dezembro de 2013

Colocando roupa para secar: lição básica

___Quando for estender roupa no varal, sempre use uma vestimenta com bolsos. Sem isso, você vai acabar demorando mais tempo pegando pregadores para cada peça de roupa ou vai segurar tantos pregadores que acabará derrubando-os – ou pior, derrubando a roupa. 

17 de dezembro de 2013

Quebrando vitrines

___Ouvir outros pontos de vista é algo que, muitas vezes, serve como um bom apoio para reflexões. Ainda mais se esses pontos de vista são de alguém interessante. 

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___Comecei a ler o livro O que é isso, companheiro?, do Fernando Gabeira, para preparar as minhas aulas de 2014. Logo na parte I, encontrei um trecho que pode servir para algumas reflexões sobre os protestos de 2013. 
___Narrando como a resistência ao Golpe Militar acabou sendo fraca e desorganizada em 1964, Gabeira diz:
___Lembro-me de que, na saída do Sindicato dos Gráficos, meio corridos, e já ouvindo vozes do adversário na Rádio Mayrink Veiga*, resolvemos cruzar todas as ruelas ao lado da Rio Branco e evitar o tráfego. Numa delas, já estava tão deprimido que joguei uma pedra numa das vitrinas e sentei no meio-fio. Um amigo jornalista, mais experiente, voltou para me buscar: “Está bem que você seja idiota a ponto de achar que jogando pedras na vitrine você está resistindo. Mas não precisa ser demais, a ponto de jogar pedra e ficar aí parado”.

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___Antes que alguém resolva atacar o Fernando Gabeira, chamando-o de reacionário, antirrevolucionário ou algo do tipo por ter escolhido colocar essa historinha para ilustrar um dos parágrafos do livro, acho bom lembrar uma coisa: é possível encontrar muitas diferenças entre o Gabeira-político dos dias de hoje e o Gabeira-escritor-revolucionário de 1979. É sempre bom tomar cuidado com as análises.
___Antes que alguém resolva, utilizando como base esse trecho d’O que é isso, companheiro?, chamar todo manifestante, revolucionário ou afim de idiota é importante lembrar que esse é o livro em que o Gabeira conta sobre a sua participação no sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick para lutar contra do governo militar e salvar outros revolucionários. É sempre bom tomar cuidado com as análises.

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P.S.: Para mais reflexões sobre os protestos deste ano, recomendo, fortemente, o Rafucko

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* A Mayrink Veiga foi uma rádio carioca fechada pelos militares em 1965. 

8 de dezembro de 2013

Fom fom!

___As pessoas que andam de carro pelo mundo não costumam saber de várias coisas. Uma delas é como respeitar os pedestres. Mas, vamos passar por cima desse exemplo para tratar de outro tópico que os motoristas também ignoram: a utilidade da buzina. 
___Para a sorte de quem está atrás dos volantes, a doutora Ann Klaxon, da Miskatonic University, acaba de publicar um aprofundado estudo demonstrando que, mesmo que pareça ter mil e uma utilidades, as buzinas na verdade só servem para duas coisas:
1) Como sinal de alerta, para chamar a atenção de alguém e evitar acidentes. 

2) Para ser idiota. 
___A pesquisa da doutora Klaxon demonstra que o uso prolongado de automóveis tem uma grande chance de causar mal para o cérebro. O resultado é que o motorista lesado acaba tendo um irresistível ímpeto de se mostrar imbecil para todos à sua volta. Por isso que é tão fácil ouvir as pessoas buzinando. 
___Se bem que isso não parece uma grande descoberta. Além de demonstrar sua completa imbecilidade, por que mais uma motorista iria buzinar com força para um velhinho de bengala atravessando lentamente a faixa? Além da inquestionável idiotice, qual mais seria o motivo para, em um engarrafamento que vai até o horizonte, ficar tocando a buzina insistentemente?

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2 de dezembro de 2013

Quando a burocracia vence a Educação

___Lombrigas são parasitas. Para conseguirem sobreviver elas precisam se alimentar do seu hospedeiro, tirar energia do outro. Portanto, além de precisarem de outro para sobreviver, ainda o prejudicam. Mais do que isso: não há troca, o hospedeiro não ganha nada com isso, só sai perdendo. O mesmo acontece com a Educação, que vive sendo parasitada pela burocracia. 
___Eu trabalho em uma escola pública que, como é bem fácil de se imaginar fora das campanhas eleitorais, sofre com falta de recursos. Não é incomum faltar sabão e papel nos banheiros, material para consertar portas quebradas e goteiras do teto ou até mesmo livros para a biblioteca e giz para se escrever na lousa. Exatamente por isso, cada vez que um professor elabora uma prova o número máximo de páginas tem de ser duas. A falta de recursos para a escola faz com que os professores tenham de se deparar com esse limite muito pequeno de cópias por aluno. 
___Talvez algum leitor impaciente esteja pensando: “Já entendi, você está reclamando da falta de grana. Mas, por que atacar a burocracia no primeiro parágrafo e no título? O que a musa dos fabricantes de carimbos fez de errado?”. Calma, eu explico. 
___Por resolução da direção, ideia típica de burocratas educacionais que nunca entraram em uma sala de aula, agora os professores são obrigados a colocar, no início de cada prova, um grande elefante branco cabeçalho. 
A prova e o elefante branco (detalhe)
___Nome do aluno, número e série, eu admito, é algo necessário. O restante, entretanto, é ruído que só serve para ocupar o parco espaço da prova. Com a maior fonte da prova, os logos do governo e da sua autarquia; abaixo, menor, o nome da escola; data; nota. Curso, componente curricular e nome do professor, como se todas essas informações fossem grandes mistérios, insondáveis até mesmo para os alunos que fazem aquele curso e estudam aquela matéria com o professor que está, em sala, aplicando a prova. 
___Como se não bastasse, ainda é necessário colocar na prova as Competências/Habilidades e os Critérios de Avaliação. As primeiras são apenas um bando sentenças de efeito da área da Educação, buridiquez pedagógico para justificar os conteúdos ensinados e cobrados. Os Critérios de Avaliação servem para dar lastro para a correção dos professores caso algum aluno reprovado resolva abrir um processo por conta da nota ruim. 
A prova e o elefante branco
___Resumindo: por causa de bobeiras burocráticas perde-se praticamente metade de uma página. Lembrando que cada professor só pode pedir, às custas da escola, duas cópias por estudante. Perde-se um espaço importantíssimo que poderia ser utilizado para colocar textos, imagens ou qualquer outra coisa que pudesse ajudar a avaliar os alunos ou, mais tarde, para tornar mais didática a correção. E, mesmo se os professores não fossem utilizar para nada daquela metade da página, ela poderia muito bem servir para que os alunos escrevessem as suas respostas. Diagnóstico: para o governo a burocracia é mais importante que o ensino.

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___Escrevo tudo isso para denunciar e desabafar. Não vou pedir para que algum parasita da Secretaria da Educação* justifique a existência desses cabeçalhos inúteis e obrigatórios. Por que não? Porque, se por um milagre a resposta viesse, seria apenas um grande gasto de recursos públicos, com papeis que viriam em um buridiquez vazio para justificar o nada. Melhor assistir Seinfeld.
Seinfeld: "tudo sobre o nada"
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P.S.: Vale lembrar: no início deste ano, uma das palestras dadas aos professores foi exatamente sobre “Preenchimento e Entrega das Papeletas”. Não há dúvidas que a burocracia está vencendo. 

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* Ou, no caso, para da Secretaria de Desenvolvimento – que é quem “cuida” do Centro Paula Souza.

26 de novembro de 2013

Genoino e as prisões políticas em democracias

___Apologia da História ou o ofício do historiador é um dos livros mais belos e importantes para a historiografia mundial. Nele, Marc Bloch, seu autor, tenta explicar para que serve a História. Entre os vários pontos tratados, um que Bloch não deu a devida atenção foi que estudar História serve bastante bem para que as pessoas não passem vergonha dizendo bobagens.* Principalmente historiadores, jornalistas e comentaristas políticos.  

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___Após decretadas as prisões dos acusados do mensalão, José Genoino, antes de se entregar, publicou uma nota pública em seu site dizendo:
Aonde for e quando for defenderei minha trajetória de luta permanente por um Brasil mais justo, democrático e soberano.
Com indignação, cumpro as decisões do STF e reitero que sou inocente, não tendo praticado nenhum crime. Fui condenado porque estava exercendo a presidência do PT.
Do que me acusam, não existem provas. O empréstimo que avalizei foi registrado e quitado.
Fui condenado previamente numa operação midiática inédita na história do Brasil. E me julgaram num processo marcado por injustiças e desrespeito às regras do Estado democrático de direito.
___Antes de assinar, Genoino termina a nota dizendo que “Por tudo isso, considero-me preso político.”. E foi exatamente essa última frase que forneceu mais munição ainda para incontáveis jornalistas que queriam – mais – motivos para continuar com a surra pública.
___O teor de muitos comentários, como é possível ver nesta fala de Merval Pereira ou neste texto do Reinaldo Azevedo, é que “Nas democracias, não há presos políticos.”. É um modo fofo de ver as democracias. Fofo, cor de rosa e com fadinhas espalhadas por todos os cantos.
Fadinhas

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___Eu lamento informar, mas democracias também produzem presos políticos. Só neste ano de 2013, por conta da onda protestos, diversos manifestantes acabaram presos. Não estou nem falando de quem usou táticas black blocks e acabou sendo pego. Estou falando de pessoas que estavam apenas exercendo seu direito democrático – e pacífico – de protestar e acabaram sendo pegos injustamente pelas forças policiais. Tá aí o Rafucko que não me deixa mentir
___Até mesmo jornalistas amargaram um tempinho em prisões só porque estavam exercendo seu democrático direito de cobrir os protestos. Mesmo assim, a Folha de São Paulo mantém uma página que se propõe a explicar os trâmites do Direito a jornalistas e afirma que presos políticos só existem em ditaduras. Triste, não?

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___Um preso político é aquele que é privado de sua liberdade, de sua voz porque o governo em vigor quer impedi-lo de exercer sua cidadania plena. Alguém que discorda do poder público e tenta demonstrar isso sem cometer nenhum crime e acaba enclausurado – pelo tempo que for – é um preso político.** Não há dúvidas que presos políticos são mais comuns em ditaduras, mas dizer que eles não existem em democracias só pode ser demonstração de desonestidade intelectual ou ignorância histórica. 
___Para não ficar só nos exemplos de 2013, vale citar que Luís Carlos Prestes (que já havia sido preso político durante a ditadura de Getúlio Vargas) foi perseguido político – com direito a seu mandato de senador cassado e vida na clandestinidade – durante o período democrático de 1945 a 1964. O mesmo aconteceu com Carlos Marighella, a partir de 1948 – época, volto a ressaltar, em que o Brasil era um país democrático.
___A atualmente mais famosa democracia do mundo, a democracia norte-americana, é tão rica em exemplos de presos políticos que dá até vontade de deixá-la como café com leite. Porém, pelo bem da didática, vou citá-la. Entre os exemplos famosos, é fácil citar Jane Fonda e Susan Sarandon, presas por protestarem contra a Guerra do Vietnã. Para casos mais recentes, é só citar a Prisão de Guantánamo – que além de manter presos políticos, ainda os tortura. 
Jane Fonda presa (1970)

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___Acho que já exemplifiquei o bastante. 
___É até possível discordar de Genoino e dizer que ele não é um preso político. No entanto, continuar afirmando que não existem presos políticos em democracias é uma atitude tão cega quanto não enxergar que Joaquim Barbosa é muito talentoso na arte de fazer politicagens. 

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* Como eu disse, Bloch não deu a devida atenção a essa questão. Isso não significa, claro, que ele não a tenha abordado. Caso alguém se interesse, o tema é tratado no capítulo III. 
** Também é possível ser um preso político por conspirar (ou atos afins) contra um governo, mas aí é possível dizer que a pessoa cometeu um crime. Como esse ponto não cabe na atual reflexão, tomo a liberdade de deixá-lo de fora. 


15 de novembro de 2013

Leitura obrigatória

___Logo no início da aula, falo para os alunos qual livro deve ser lido até o fim do bimestre. Tentando empolgá-los, conto curiosidades sobre a autora, provoco relatando uma parte com ação e leio um trecho interessante. Considero o resultado positivo.
___Ao fim da aula, um aluno, que normalmente parece desinteressado, vem falar comigo sobre a obra. 
___– Puxa, professor, pareceu bem bacana o livro que você escolheu!
___Feliz pela boa recepção, sorrio e agradeço. 
___– Queria perguntar uma coisa, continuou o aluno.
___– Diga.
___– Na prova vai cair alguma questão sobre o livro?
___Menos animado, respondo:
___– Sim, vai... 
___– Ah... Sabe o que é? Ando sem saco para ler atualmente. Será que o senhor pode me indicar um bom resumo? Assim eu não leio qualquer porcaria por aí...
___– ...

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P.S.: Quando recuperei a fala, disse para o aluno perguntar para uma especialista. Como sou muito bonzinho, indiquei a Hillé Puonto.


10 de novembro de 2013

Ouça

___Lavar louça é uma atividade extremamente chata, inglória e interminável. Pior ainda, não dá para fazer quase nada de bacana enquanto aquilo não acaba. Com uma honrosa exceção: ouvir. É exatamente lavando panelas que ouço músicas novas para minhas aulas de dança e, também, que eu acabo ouvindo podcasts
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___Escrevo esta postagem simples com dois objetivos: primeiro, já que a louça parece se reproduzir como gremlins molhados (hum... será esse o problema?), gostaria de pedir indicações de podcasts para os leitores. O segundo objetivo é fazer uma indicação. 
___Ouço alguns podcasts mais famosinhos que contam com atualizações bem marcadas, como o semanal Nerdcast e, a cada 10 dias, o Papo de Gordo. Só que o meu preferido é um pouco menos conhecido e sem periodicidade alguma: quando um novo programa aparece é sempre uma surpresa. Foi exatamente essa surpresa que me fez sentar para escrever essa indicação: há dois dias, o Escriba Café lançou mais um episódio – no caso, sobre a Somália
___O patamar de meu podcast preferido foi atingido não apenas porque o Escriba Café fala de temas atípicos. O cuidado com a edição de cada episódio é admirável e, tal qual um programa de rádio da década de 1940, a sonoplastia deixa o podcast mais vivo e palpável do que muitos vídeos de televisão. Só para exemplificar, indico o episódio LXXIX, “O assassino do zodíaco”. Sinceramente, achei que valeu mais a pena escutá-lo do que assistir a última temporada do seriado Dexter
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___Espero que vocês gostem da indicação. E, para quem já ouve podcasts, por favor, não deixe de indicar algo também.
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P.S.: Caso alguém queira indicação de um programa de rádio tradicional, o meu preferido ainda é o Sala dos Professores, do Daniel Daibem. O programa infelizmente não existe mais, mas dá para ouvi-lo no arquivo da rádio Eldorado.

8 de novembro de 2013

Teste de Rorschach

___Em pleno dia em que se comemora o nascimento do psiquiatra Hermann Rorschach, descubro que tem muita gente que o acha parecidíssimo com o Brad Pitt. Tanto que abundam pela internet imagens colocando os dois lado a lado. 
Hermann Rorschach e Brad Pitt
Hermann Rorschach e Brad Pitt
Hermann Rorschach e Brad Pitt
Hermann Rorschach e Brad Pitt
___Pessoalmente, não vejo tanta semelhança assim. Tá certo que eu nunca fui um bom fisionomista (tanto que até acabei comendo aquele pedaço de pão que talvez tivesse a cara de Jesus). 
___Pode ser que alguém provoque me dizendo que eu tenho sorte do Teste de Rorschach não valer nota. Meu retruque seria dizer para a pessoa prestar atenção na imagem abaixo de uma raposa com vontade de comer uvas. ;-)
Teste de Rorschach

5 de novembro de 2013

Intervenção

___Existe tanta gente com problemas, precisando de apoio, de amparo. Ainda bem, em vários casos, existem grupos tentando ajudar. Infelizmente, não é possível saber da existência de cada uma desses esforços – quem dirá ajudá-los. No entanto, saber que alguém está lutando por determinada causa pode ser um importante passo inicial para, de alguma forma, engajar-se também. 
___Mesmo sabendo o quão importante é a questão indígena, eu só soube da existência da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, da Mobilização Nacional Indígena e do ótimo site A República dos Ruralistas por conta de uma intervenção artística. 
Intervenção artística na rua Apinajés - #DireitosIndígenas
___Uma estátua, um nome de rua, um feriado existe para, de alguma forma, manter a memória de determinado assunto. Só que essa memória não precisa ser apenas algo ligado ao passado, ela pode muito bem ser utilizada como parte de uma luta presente. Foi exatamente o que a bela intervenção artística acima me lembrou ao caminhar por uma rua com o nome de um povo indígena. 
___Algo lindo, necessário e que merece mais divulgação. #DireitosIndígenas

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Doações - D. Pedro II, por Tiburcio

3 de novembro de 2013

Não foi privatização!

___Depois do meu textinho jocoso sobre o leilão para privatizar o Campo de Libra, apareceu um pobre governista nos comentários dizendo que não foi uma privatização. Para justificar tal afirmação, o anônimo usa o argumento de que a própria presidenta disse que não foi
___Se o comentarista justifica a sua afirmação utilizando a palavra da presidenta Dilma, eu justifico a minha com o maravilhoso Carlos Latuff.
Dilma e a privatização do Campo de Libra, por Carlos Latuff
___É só isso que eu tenho a dizer, por enquanto.

1 de novembro de 2013

Temporal

___É delicioso ler livros escritos em outras épocas para ver como as pessoas pensavam, o que era aceitável naquele período e coisas do tipo. Em Caçadas de Pedrinho, ao contar que as onças planejam devorar a todos, Emília acrescenta: “Não vai escapar ninguém — nem Tia Nastácia, que tem carne preta.”*. Quando Monteiro Lobato publicou isso (e diversos outros comentários que denegriam Tia Anastácia por conta da cor da sua pele) em 1933, não se viu nada de mais. 
___Hoje, ainda bem, existem acadêmicos pedindo para que as editoras a insiram notas explicitando a existência de estereótipos raciais. Mais do que isso, para que uma personagem ficcional contemporânea possa produzir uma fala como a da Emília, ela teria de ser assumidamente racista.
Walter White e o nazista "tio" Jack Welker, do seriado Breaking Bad (2008-2013)
___Recentemente, lendo Razão e Sensibilidade, da Jane Austen, cruzei com outros exemplos interessantes. Em um deles, uma das personagens diz que “Os dois formariam um excelente casal, porque ele era rico e ela era bonita.”**. Claro que, do jeito que a nossa sociedade é imbecil, ainda é bem plausível se produzir – inclusive fora da ficção – uma frase assim. 
___O outro exemplo, graças a Clio, já é praticamente inaceitável. Ei-lo: 
___“– Uma mulher com 27 anos – disse Marianne, depois de fazer uma pausa momentânea – nunca poderá esperar sentir ou inspirar afeto novamente”***. 
___O início do século XIX poderia até produzir frases assim. Na nossa sociedade, entretanto, é completamente descabida a ideia de que uma mulher com 27 anos não iria nunca atrair ninguém ou, pior ainda, não seria nem mais capaz de gostar de alguém. É algo tão irreal, que se hoje uma autora produzisse um romance que se passa no século XIX e acabasse por colocar tal frase na boca de uma personagem, não faltariam leitores a chamá-la de exagerada, para dizer que aquele trecho era irreal e coisas do tipo.**** 
___Hoje, também seriam irreais na minha boca palavras que, há dez anos, me soariam naturais. Se alguém for ler o que eu já escrevi neste blog daqui uns cem anos, sem dúvida vão encontrar muito pelo que me censurar. Até lá, continuo, completamente datado, pintando o retrato surreal da minha época. Eu e todo mundo.
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P.S.: Outra citação literária interessante: no mesmo capítulo IV em que Emília-Lobato solta o escroto comentário racista sobre a Tia Anastácia, ela (-o autor) toma uma atitude feminista bem legal. Segue a citação:
___– Eles vão atacar a casa e comer toda a gente do sítio — disse o besouro com voz cautelosa.
___– Eles quem? – indagou Emília.
___– As onças, as irarás e os cachorros-do-mato.
___– Elas, então – disse Emília, que implicava muito com a regra de gramática que manda pôr pronome no masculino quando há diversos sujeitos de sexos diferentes. Elas vão atacar o sítio, não é?
___Para mais reflexões sobre o assunto, leiam o “mini-manual pessoal para uso não-sexista da língua”, do Alex. 

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* Capítulo IV.  
** Capítulo VIII. Grifos do livro.
*** Capítulo VIII.
**** Mesmo se a personagem fosse como Marianne: uma tresloucada, toda dirigida por seus sentimentos.

26 de outubro de 2013

Ironia do futuro

___A época do governo do Fernando Henrique Cardoso foi bastante estranha para mim. Saibam que, durante boa parte da década de 1990, eu recebi a visita de alguns viajantes do tempo. 
___Claro que alguém pode dizer que as coisas estranhas que vou relatar estão ligadas ao fato de que, naquela época, eu estava na faculdade de História e que meus colegas fumavam tanta maconha que acabei alucinando. Deixando essas hipóteses maledicentes de lado, vou contar a minha história.
___Em meio à leitura de algumas notícias sobre a privatização da Telebrás, exclamei irritado:
___– FHC desgraçado!
___– Calma, Ulisses. –, ouvi uma voz falando atrás de mim. 
___Virei gritando, mas, assim que vi que quem estava falando comigo era Marty McFly, rapidamente me acalmei. Não que personagens de filmes costumem aparecer na minha sala, só que naquela época eu recebi tantas vezes Marty e seus amigos que aquela surpresa não me assustava mais. 
Marty McFly
___– O que foi, McFly? Por que não posso me irritar com essas notícias?
___– Entenda, Ulisses, se você começar a ficar nervoso cada vez que souber de alguma notícia sobre privatização, você vai acabar tento um infarto antes que chegue à data futurista do meu segundo filme
___– Bobagem. O Dr. Emmett Brown apareceu faz alguns anos e me disse que, depois deste governo do PSDB, o PT, com o Lula, é que vai governar o país. Você vai ver, será o fim das privatizações.  
___– Ulisses, não seja ingên...
___– Não me venha você com bobagens, Marty! –, falei me levantando, para enfatizar a minha impaciência. – A Clara, mulher do Dr. Brown, chegou até a me mostrar, toda contente, um vídeo com a candidata, também do PT, que o Lula vai apoiar para a sua sucessão. É uma pessoa bem bacana, que chegou a lutar contra a Ditadura Militar de frente! Olha o vídeo com ela dizendo que não vai privatizar nossas reservas de petróleo.
___– Puta merda! É ela mesma que vai comandar as privatizações do pré-sal.
___– Você tá louco? Não prestou atenção? Ela falou que acha isso algo criminoso! Que é o Serra que “só pensa em vender o patrimônio público”!
___– Ulisses, eu juro para você. Para impedir manifestações contra a privatização, essa tal de Dilma vai até colocar o exército na região em que vai acontecer o leilão.
___– Marty, isso não faz nenhum sentido. Eu não falei para você que ela lutou contra a Ditadura Militar? Você acha que uma pessoa assim vai colocar o exército na rua contra a população? Você acha que uma governante do PT vai apoiar a privatização e reprimir o povo?
___– Vai! Acredite em mim. Tenho até uma foto do exército no hotel em que irá acontecer o leilão.
___Enfiando a mão no bolso do casaco, Marty McFly me mostrou a seguinte foto:
Cerca de 40 militares com escudos e armas não letais patrulham, desde a madrugada deste domingo, a área onde será realizado o leilão do Campo de Libra Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil
___Ainda sem acreditar, tentei me mostrar mais calmo brincando com o viajante do tempo:
___– Meu querido, acho mais fácil você me convencer que, nesse mesmo futuro, o Chico Buarque vai defender a censura. 
___– Ah... Ulisses, é melhor você sentar. Acho que eu tenho outra má notícia para você...
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Texto completamente inspirado nesta postagem da maravilhosa Camila Pavanelli.

17 de outubro de 2013

Elogio às avessas

___Aproveito que a chuva parou por alguns minutos e saio para passear com as minhas cachorras. No meio do quarteirão, encontramos uma moça com o seu chihuahua. Enquanto os cachorros se cheiravam, os donos começam a conversar.
Ela: Nossa, que lindas!
Eu: Obrigado.
Ela: De que raça que elas são?
Eu: São vira-latas. 
Ela: Tem certeza?
Eu: ... Ah... Tenho...
Ela: Nossa, nem parecem vira-latas. Elas são tão bonitas...

12 de outubro de 2013

O Trabalho enobrece (postagem especial de Dia das Crianças)

___Fui convidado a ensinar “Ética e Cidadania” em turmas de Ensino Técnico e Superior. Logo no início do curso, passei um cronograma com os temas que eu pretendia trabalhar com as turmas. Entre eles anunciei que, em determinada aula, falaríamos sobre “trabalho infantil”. Na semana anterior àquela aula, um aluno enviou a seguinte tirinha:
A Escolha, por Will Leite
___Como provocação, a tirinha serve muito bem. Mas, se a reflexão em sala de aula fosse acabar apenas com esse maniqueísmo pobre, melhor seria nem começar o curso. 
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Arbeit macht frei
___Quem sou eu para dizer que não são lindos os inúmeros exemplos de trabalho que ajudou a moldar bem o caráter de uma pessoa justa e esforçada? Ser respeitoso, ter de cumprir um horário, agir sempre de determinada maneira e muitos outros pontos próprios do trabalhar podem muito bem ensinar responsabilidades para os jovens. Só que o mundo não é só preto e branco vermelho, amarelo e verde. 
___O trabalho pode enobrecer, mas o trabalho, principalmente em determinada idade, pode também corromper. Trabalhar na infância, pode afastar o jovem dos estudos –, ou, para dizer pouco, prejudicar o desempenho. 
___Mais ainda. Não existe apenas o caso do pai amoroso e preocupado que quer ver a filha ganhar responsabilidade. Existe também a exploração infantil. Pais colocando os filhos nos faróis para mendigar; crianças executando trabalhos agrícolas que seriam árduos para adultos; prostituição infantil. Enxergar apenas o “trabalho infantil educador” é muito conveniente. 
___Falando de enxergar, force a memória e tente se lembrar da última criança que veio pedir comida para você; daquele menino catando latinhas de cerveja na festa de carnaval; da menininha costurando; do garoto vendendo chiclete no metrô; da menina querendo limpar o vidro do seu carro; da mãe que pedia esmola segurando um bebê; do garoto-engraxate. Você viu todas essas crianças? São todos exemplos de trabalho infantil. Ou você está tão acostumado que nem viu? 
___Se não viu, saiba que quando alguém brada contra o trabalho infantil, está falando principalmente desses casos. Tente olhar com mais atenção, tá bom?
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P.S.: Mesmo não tendo concordado muito com a ideia desta tirinha, acabei conhecendo o trabalho do WillTirando. Deixo algumas que me agradaram mais. 
Dez anos mais, por Will Leite

Irrelevante, por Will Leite

A maldade do mundo está nos olhos de quem vê, por Will Leite

Adoção?, por Will Leite

Coisas incríveis que aconteceram na Ditadura

10 de outubro de 2013

Acumulados

___Por vezes, os compromissos cotidianos se acumulam (provas a corrigir, aulas a preparar, contas a pagar, síndicos imbecis a aturar, louças a lavar). O resultado é que certas coisas que eu gosto de ver assim que são feitas acabam se acumulando também. Então, em um dia mágico qualquer, de uma vez, eu sento e vejo tudo o que o Alex, a Laerte, o Sakamoto, a Lola, o Latuff, o Rafucko e outras pessoas vivas e especiais, fizeram enquanto eu não pude acompanhar. E quase sempre eu fico com lágrimas nos olhos.
___Deixo o cartoon do Latuff que me causou isso na última leva.
Comissão da Verdade visita antigo DOI-CODI, C. Latuff

30 de setembro de 2013

Fora do lugar

___Quando um livro ou filme resolve falar do passado, costuma-se tentar retratar o período da maneira mais fiel possível. O resultado pode nunca chegar ao ideal, mas é bem bacana ver aqueles que realmente se esforçam para chegar perto disso. Fazer um exercício de apontar os erros históricos dessas obras costuma ser bem interessante. Manjado, porém interessante. 
___É manjado exatamente porque é muito fácil encontrar algum deslize. Até o aclamado filme O Nome da Rosa, que contou com a supervisão histórica de Jacques Le Goff, o melhor medievalista vivo do mundo, não deixou de escorregar. Na famosa cena de sexo, a moça escolhida não apenas tinha padrões de beleza da nossa época, como também estava com as pernas depiladas.* Aí, quando um ex-aluno (que disse que gostava muito quando eu analisava historicamente algum documento em sala) pede para que eu analise um texto que ele publicou, como posso ralhar se um dos erros foi exatamente esse padrão de beleza contemporâneo, com pernas depiladas e tudo? É difícil ultrapassar certas barreiras.
O Nome da Rosa;
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___Claro que imperfeições não são apenas históricas. Se o texto não está muito bem fechado, se um diretor não prestou bastante atenção ao seu trabalho, é sempre fácil deixar escapar uma falha. 
___Vou dar um pequeno exemplo. Recentemente, o pessoal da Parafernalha publicou um vídeo com o Jean Wyllys
___Dessa vez eu apreciei o trabalho da turma da Parafernalha. Entretanto, logo no início do vídeo, acontece um furo. Assim que começa, o jornalista fala:
___– Deputado Jean Wyllys, primeiro eu gostaria de dizer que é uma honra recebê-lo aqui na revista Cronus...
___Atrás do entrevistador o cenário já era um incomodo. Após a fala transcrita acima, o vídeo corta para o Jean Wyllys e, então, o incomodo se transforma em um erro. Ou a revista Cronus decidiu entrevistar o Jean Wyllys na sala do jurídico da empresa, ou, mais provavelmente, o vídeo foi gravado em algum lugar como o gabinete do deputado. A estante cheia de livros jurídicos, a mesa pesada e o entrevistado preso no canto mais apertado, com toda certeza não combinam com a organização do local em que uma revista recebe seus convidados para uma entrevista. 
___Tudo bem, eu entendo que deve ter sido dificílimo para o pessoal da Parafernalha conseguir uma hora com um deputado ativo e sério como o Jean Wyllys, entendo que deve ser difícil ficar cagando regra e dirigindo alguém tão importante – “Senta aqui.”, “Não, não... vamos tentar filmar naquele canto.”, “Fica um pouco de pé...”. No entanto, se havia pouco tempo para a filmagem, se não dava para ficar abusando da boa vontade do deputado, um roteirista, o diretor ou, no máximo, um continuísta deveria ter resolvido. 
___Toda a questão seria facilmente resolvida com uma pequena mudança no texto, com um “Deputado Jean Wyllys, primeiro eu gostaria de agradecê-lo por ter recebido a revista Cronus...”. Pronto: se não dava para mudar o cenário, que se mudasse a fala inicial, como se o entrevistador tivesse ido até o deputado, não o contrário.** 
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___Claro que não é possível acertar sempre. Um caminho para se evitar erros é buscar ajuda, ter mais olhos prestando atenção ao que está sendo feito, saber solicitar críticas. Ou, falando de maneira mais profissional, deixo o meu vídeo preferido da Porta dos Fundos.


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* Ficar brincando de encontrar erros históricos em obras, obviamente, não é o único caminho que pode ser percorrido por um historiador ao analisar um filme. Para ver outros caminhos (mantendo O Nome da Rosa como base), recomendo o artigo “O Cinema em Sala de Aula: representações da Idade Média em O Nome da Rosa de Jean-Jacques Annaud”, de Edlene Oliveira Silva. 
** Como provavelmente aconteceu na gravação, vale dizer.

23 de setembro de 2013

Uma história real e uma despedida

___Eliane Brum é (ou melhor, era) uma das melhores colunistas da atualidade. Toda segunda-feira, no site da revista Época, ela publicava lindos textos de análise da nossa sociedade; falava maravilhosamente de assuntos que a maior parte dos jornalistas normalmente esquece. Hoje ela publicou sua última coluna por lá.
___Talvez para indicar para quem não conhece, quiçá para aplacar a minha tristeza de saber que não mais poderei lê-la às segundas, deixo com vocês a última das três histórias que Eliane escolheu para a sua despedida. Deixo o link para que vocês possam ler todo o seu último texto e o link para toda a coluna, com os textos anteriores, que eu recomendo sem a nenhuma censura. Aproveitem. 
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Meus tios buscavam as horas a cavalo, como contei uma vez aqui. Na casa da zona rural era missão dos mais velhos dar corda no relógio de parede. Mas acontecia de alguém esquecer sua tarefa e, no espaço de uma batida, o som da passagem da vida cessava. De fato não fazia falta porque a natureza marcava o tempo e eles dela eram parte. Mas a ausência do tique-taque com os dias ia se tornando uma presença de mau augúrio, porque vida vivida é vida marcada. Antes que o mundo se desarranjasse, meu avô despachava um filho para a cidade. Dava a ele seu relógio de bolso, sempre parado até essas emergências temporais. Um dos meus tios encilhava o cavalo, só usado em ocasiões de importância, e lá se ia galopando por 13 quilômetros no encalço das horas. Sabia onde encontrá-las. Na praça central de Ijuí, de um lado postava-se a igreja católica, de outro a evangélica, a dividir almas e poderes. Mas só a evangélica ostentava na torre um relógio que dominava a cidade. Meu tio dava as costas para a sua fé, com a certeza de que o padre o perdoaria, e com as mãos desajeitadas pela enxada guardava as horas no relógio de bolso. Galopava de volta com o tempo enfiado nas calças. E o coração da casa voltava a bater lembrando que a vida acaba. 
Esse relógio seguiu tiquetaqueando enquanto as mortes se sucediam, assim como as estações, e a casa lentamente foi virando terra. Chegou a minha vez de buscar o tempo para colocá-lo na minha parede, em cima da escrivaninha-xerife. Não mais a cavalo, agora são mil quilômetros, mas de avião, um carro, talvez um ônibus. Tentarei não me esquecer de dar corda.
Compartilho essa memória pessoal para dizer que o tempo que passei aqui com vocês me ajudou a inventar uma vida com sentido. E agradeço – profundamente – pelo tempo que cada um me deu ao ler esta coluna, porque sei o quanto esse gesto é largo. Escolhi me despedir das segundas-feiras. E buscar novos dias.

13 de setembro de 2013

Mensagem divina

___Depois de várias horas estudando mitologia para preparar algumas das aulas do curso “A magia da realidade”*, parei no meio da leitura do mito de Surya. Para descansar um pouco, resolvi assistir alguma coisa aleatória na televisão. Sentei no sofá, liguei a TV e me deparei com a seguinte mensagem:
Mensagem de Surya
___Entendi claramente o aviso divino. Desliguei a televisão e voltei para os estudos. 
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P.S.: Eu sei que explicar piada é um pecado, mas como pouca gente aqui no Brasil ouviu falar de Surya, explico: na mitologia hindu, Surya é o deus do sol. 
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* O curso já começou e parece estar indo muito bem. Para os interessados, o calendário do curso foi atualizado. Confiram aqui

6 de setembro de 2013

Moralismo gosmento

___Visita de família. Em determinado momento, uma pessoa entra no meu quarto e bronqueia:
___– Poxa, Ulisses! Atenção! Tem visitas em casa e você deixa o lubrificante em cima do criado-mudo.
___Sem querer arrumar uma discussão desnecessária, abro a gaveta e jogo a bisnaga do lubrificante para dentro.
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___Fim do evento social. Cansados, eu e minha esposa vamos para a cama. Em meio ao deitar juntinhos e conversar, começamos a brincar um com o outro e, pouco tempo depois, procuro o lubrificante. Não está em cima do criado-mudo. Lembro da conversa ocorrida mais cedo, abro a gaveta, coloco minha mão para dentro e percebo ela melecada. 
___Achando estranho, levanto, acendo o abajur e descubro que a porra do lubrificante estourou na gaveta. Ao invés de ter um fim de noite gostoso, eu e minha esposa passamos um tempão limpando o móvel.
___Vou me lembrar disso para, na próxima vez, mandar o moralismo tacanho dos outros tomar no cu. Sem lubrificante. 
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P.S.: Sobre criados-mudos, recomendo a linda animação “O emprego”, de Grasso 'Bou' Santiago, e o livro Homens invisíveis, de Fernando Braga da Costa.

2 de setembro de 2013

Comprar X Adotar (adendo à fala alheia)

___No final do mês passado, o Clarion de Laffalot fez um vídeo explicando seus motivos para ter escolhido comprar ao invés de adotar sua cachorrinha. Segue o vídeo
___Não pretendo questionar o Clarion, muito menos dizer que ele fez uma escolha errada. Se ele está feliz com a cachorrinha que comprou e ainda a trata bem, não vejo nada de condenável. Mesmo assim, acho que vale a pena contar um pouco do meu caso para acrescentar um ponto adverso à argumentação do vídeo. 
___Um dos argumentos principais do Clarion para ter optado por comprar a Nicole foi porque assim ele pôde escolher exatamente a raça da cadelinha. Ao escolher determinada raça, previamente se sabe algumas das características que a cachorrinha teria e que ele desejava. Pois bem, eu e minha esposa também passamos por algo parecido: precisávamos que nossa segunda cachorrinha tivesse determinadas características e, por isso mesmo, decidimos adotá-la. 
___Explico: nós já tínhamos a Cleópatra VII, uma cachorrinha tão corajosa quanto o Scooby-Doo. A pobrezinha era extremamente submissa, tinha medo de tudo e vivia a se esconder pelos cantos. Se iriamos arrumar outra cachorra, ela não poderia ser agressiva, dominante, nem nada do tipo ou poderia acabar estorvando mais ainda a vida da pobre Cleópatra VII. 
___Para escolher a nova cachorrinha, fomos, em um domingo, até a Matilha Cultural. De terça a sábado a Matilha é um centro cultural bem interessante; aos domingos ela abre seu espaço para que a ONG Natureza em Forma leve animais para adoção. Como se trata de um prédio fechado e com um bom espaço, os animais ficam soltos. Essa liberdade permite que quem quer adotar possa ver um pouco como os cachorrinhos disponíveis são: quem fica latindo para quem entra, os que são brincalhões, aqueles que estão no canto dormindo, quais cachorros sabem jogar pôquer, etc.. 
A Friend in Need, de Cassius Marcellus Coolidge
___Foi assim, olhando com calma e perguntando para os atendentes da ONG, que nós conseguimos uma cachorrinha exatamente com as características que queríamos: a Isabel Allende. E, desde a chegada dela em casa, a Cleópatra VII tem melhorado muito. 
foto
Da esquerda para a direita: Cleópatra VII, Isabel Allende e a minha esposa.
___Portanto, digo que adotar – principalmente se for um cãozinho adulto* – pode também ser uma ótima forma de escolher exatamente o cachorrinho que se quer. É só ter paciência, ou, nas palavras do Clarion, “fazer o dever de casa”.
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P.S.: Quanto aos comentários do Clarion sobre adoção de crianças, aproveito para acrescentar: concordo com cada vírgula. 

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* A Isabel Allende tinha, quando adotamos, 1 ano e meio. 

25 de agosto de 2013

Eu: racista, machista e homofóbico

O professor e as minorias
___Durante a minha carreira como professor, eu me esforcei muito para lutar contra os preconceitos que oprimem as minorias. Várias vezes alguns alunos mais reacionários ficaram realmente incomodados com as minhas posições. O incomodo que sente quem ataca os mais fracos não me incomoda; para falar a verdade, fico feliz de provocar nesses alunos outras formas de pensar. Só que existe outro lado dessa história: mesmo sendo aberto, mesmo tentando entender e ajudar os oprimidos, eu também já fui acusado de opressor. 
___Recentemente, duas alunas vieram me entregar uma carta. Diziam que, em aula, tomei atitudes que ajudam a propagar o racismo e o machismo. Faz alguns anos, logo que uma aula acabou, outras duas alunas vieram me dizer que eu havia dado um exemplo homofóbico. Em ambas as situações, minhas principais atitudes foram agradecer e me desculpar. 
___Depois, em casa, com calma, parei e revi cada passo daqueles casos. Tive vontade de agradecer e me desculpar novamente. E, principalmente, pensei o que eu precisaria fazer para não repeti-los. 
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Mania de perseguição
___No caso mais recente, como eu tinha a carta em mãos, usei-a para conversar sobre a situação com alguns conhecidos para poder refletir melhor sobre o assunto. Grande parte deles disse que aquilo não era nada, que “Essas meninas estão paranoicas! Estão querendo ver machismo e racismo em tudo.”. 
___Não concordo. Não acho que minhas alunas são paranoicas, mas também, durante a minha aula, não achei que estava sendo racista, nem machista. Só que não sou eu que tenho que dizer o que é machista ou racista. Por mais que o racismo e o machismo me incomodem, eu não os sinto na pele. Quem tem de falar sobre os incômodos que sofre é quem realmente está sofrendo. Quem não está, tem de entender. Entender e tentar não causar mais sofrimento. 
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O caso de Cleópatra VII
___No começo do ano passado, eu e minha esposa adotamos uma cachorrinha vira-lata que nós chamamos de Cleópatra VII. Provavelmente ela foi muito maltratada antes de morar conosco e, por conta disso, tem medo de tudo. Nunca quer passear, vive a se esgueirar pelos cantos da casa e rapidamente se esconde tão logo alguma visita aparece. 
___Trata-se de uma cachorra medrosa, que tem medos que outros cachorros não têm. Qual é a melhor atitude a tomar? Dizer “Isso não é nada. Essa cachorra é uma paranoica! Fica com medo de tudo.” e, então, dar um pontapé? 
___Se a Cleópatra VII tem seus medos, eu tenho é de entendê-la, não maltratá-la. O objetivo não é oprimi-la mais. Gosto dela e quero que ela seja uma cachorrinha feliz.*
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Os Donos da Verdade
___“Você quer que nós acatemos qualquer acusação de preconceito só porque ela foi feita por negros, transexuais, mulheres, hobbits, homossexuais ou coisa que o valha?”. Não. Eu quero que aquilo que qualquer grupo oprimido chame de opressão seja visto com a maior das atenções, seja pensado e repensado. E que você que não passa por aquilo saiba que para o outro, para aquele que é oprimido, aquilo está incomodando. Aí eu pergunto: ao saber disso, a melhor atitude é continuar sendo incomodo?
___Minha atitude foi e continuará sendo me desculpar. Desculpar-me e refletir muito sobre o assunto para tentar, cada dia mais, não agir de maneira escrota. 
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P.S.: A empresa em que o meu amigo Alex Castro trabalha passou por algo parecido no ano passado e ele escreveu sobre o assunto. Fica o link
P.P.S.: Em todos os meus anos como professor, só tive uma aluna transexual. Seu nome na chamada era masculino e, assim que soube da sua situação, perguntei como ela preferia ser chamada; ela me deu seu nome feminino que, prontamente, coloquei na chamada. Para mim, pareceu a coisa mais normal do mundo a se fazer. No fim do ano ela veio me agradecer, contando que eu era o único professor da escola a tratá-la como mulher. Quando fui comentar isso na sala dos professores, eu, homem heterossexual cisgênero, quase fui linchado. Imaginem como era horrível para essa aluna ter aula com professores assim.
Transfobia

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* Vale contar que nós adotamos mais uma cachorrinha, a Isabel Allende, para tentar dar mais coragem à Cleópatra VII e isso tem funcionado muito bem.  

16 de agosto de 2013

Questões médicas

___Quando eu vejo todas as discussões atuais sobre a classe médica e o governo, muitas vezes penso o que diriam certas pessoas que já se foram.
___Abaixo o Henfil, na década de 1970.
Medicina

11 de agosto de 2013

A humilhação pública e os seus limites

___Viralizou, faz uns dias, um vídeo em que algumas pessoas, ao encontrar o imbecil do deputado Marco Feliciano em um voo, resolveram cantar a música “Robocop Gay”, dos Mamonas Assassinas, para “homenagear” todo o preconceito do político do PSC. Todo mundo que eu vi compartilhando o vídeo, tratou-o de maneira positiva. Pessoalmente, acho ótimo que incomodem o pastor Feliciano, acho que ele tem de ser achincalhado o tempo todo mesmo, mas o que aconteceu no vídeo me incomodou. 
___Por mais positivo que seja constrangerem publicamente um homofóbico como o Feliciano, acredito que os manifestantes passaram do limite em um ponto: tocar no pastor. 
___Talvez alguém diga: “Ah, Ulisses, seu mala, o máximo que fizeram foi dar uma passadinha de mão no cabelo dele.”. E eu vou retrucar: E por acaso tocar na pessoa é pouco? Você vai defender o homofóbico que “só quis dar um empurrãozinho” no homossexual para “ele parar de ser tão afetado”? Vai achar correto o machista que “só” deu uma passada de mão na moça porque “ela estava pedindo! Olha a roupa dela!”?
___“Ah, mas é diferente! Aí é uma agressão.”. Eu pergunto onde está o limite da agressão? Se o cara é homofóbico e racista como o Feliciano nós podemos passar a mão no cabelo dele e só? Ou também dá para provocar passando a mão na bunda? Vale dar um tapinha na cabeça? E um murro na cara? Digam-me, queridos, qual é o limite?
___A vantagem de achincalhar, de se humilhar publicamente um homofóbico, é que ele aprende, cada vez mais, a não demonstrar esse tipo de coisa. O homofóbico que está sendo humilhado e outros que estão observando passam a ter receio de mostrarem a sua homofobia, aprendem que as outras pessoas não veem suas ideias heteronormativas como aceitáveis. Com sorte e com o passar do tempo, a homofobia diminui. 
___Já um toque tem uma boa chance de levar a um retoque. Uma mão no cabelo tem uma chance bem maior de resultar em um soco na cara. Não que um achincalhe verbal não tenha, mas palavras provavelmente serão respondidas com palavras, o que só vai expor mais ainda os preconceitos do homofóbico, só vai, mais ainda, torná-lo mal visto. 
___Longe de mim defender um escroto como o Feliciano, mas acho bom ficar bem atento às formas de atacá-lo. Como eu bem disse em outra postagem, é bom tomar cuidado para não ser tão criminoso quanto o próprio bandido.
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P.S.: Falando em tocar na pessoa, para demonstrar como isso é uma agressão muito maior, tenho um vídeo para linkar. Caco Barcellos, um dos melhores, mais humanos e corretos jornalistas do país, um cara que sempre lutou pelas minorias,* foi expulso de uma das manifestações contra o aumento das passagens simplesmente por trabalhar, atualmente, na Globo.
___Calmo, Caco Barcellos percebeu que a massa dos manifestantes era formada simplesmente por um bando de ignorantes quem nem imagina o quanto o trabalho que ele já fez é importante. Barcellos sabia que aquela reação contra ele era feita por pura ojeriza à Globo, que quem se manifestava contra ele, não o conhecia; para os manifestantes, ele era apenas um repórter genérico da Globo. Notem pelas reações do jornalista que o que realmente incomodava eram os toques, que, como é bem fácil perceber, facilmente poderiam chegar a uma agressão mais grave.

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* Recomendo fortemente seus lindíssimos livros Abusado, o dono do morro Dona Marta e Rota 66 – A Historia da Policia que Mata.

Atualização (13/VIII/2013): Comentário lindo do pessoal do Bule Voador

8 de agosto de 2013

Curso: A magia da realidade – uma visão das Ciências Humanas e Biológicas

Calendário atualizado em 26/IX/2013.
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___Quase todo ano eu ofereço para os meus alunos do Ensino Médio algum curso extracurricular sobre algo que eu entendo, mas que normalmente fica fora da grade normal de um curso de História –, seja por falta de tempo, seja por falta de interesse do Poder Público. Já dei cursos sobre a História da dança de salão, do xadrez, dos povos pré-colombianos, sobre mitologia nórdica, já analisei, as vezes durante todo o ano, livros como A Divina Comédia, de Dante, O Cavaleiro Inexistente, de Italo Calvino, ou o Decameron, de Boccaccio. 
___No segundo semestre do ano passado, retirei da pedra um curso sobre lendas arturianas com uma professora de Literatura. O bom resultado me animou a tentar outro curso interdisciplinar, só que, desta vez, com uma área não tão próxima. Neste ano, darei um curso com um professor que, faz anos, eu admiro: o biólogo Fernando Domenico.*
___O curso foi inspirado por Deus na obra A Magia da Realidade, o novo livro de divulgação científica (excessivamente ilustrado) de Richard Dawkins. Além dele, são apoios praticamente obrigatórios as obras de Carl Sagan –, principalmente o livro O mundo assombrado pelos demônios e o livro e documentário Cosmos.
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___Segue o cronograma do curso:
- Aula 1 (dia 5/IX): Introdução, professores Trida e Fernando. 
- Aula 2 (dia 12/IX): O conhecimento mitológico é científico?, professor Trida. 
- Aula 3 (dia 19/IX): O misticismo, a pseudo-ciência e as falhas da percepção humana, professor Fernando. 
- Aula 4 (dia 26/IX):  Os ombros dos gigantes, professor Trida. 
- Dia 3/X: A aula deste dia foi transferida para a semana seguinte por conta de uma atividade escolar. 
- Aula 5 (dia 10/X): A navalha de Occam e outras ferramentas céticas, professor Fernando. 
- Aula 6 (dia 17/X): Da Idade das Trevas ao Século das Luzes, professor Trida. 
- Aula 7 (dia 24/X): Mas afinal, por que ser cético?, professor Fernando. 
- Aula 8 (dia 31/X): Divulgação científica, professores Trida e Fernando. 
- Aula 9 (dia 7/XI): Debate sobre o capítulo 11, “Por que coisas ruins acontecem?”, do livro A Magia da Realidade, de Richard Dawkins, e fechamento do curso, professores Trida e Fernando. 
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___O curso irá ocorrer às quintas-feiras (de 5 de setembro a 7 de novembro), do 12h10min até 12h55min, na sala 16T, do prédio Ary Torres, da Etesp.** A entrada é completamente gratuita e livre para qualquer interessado. 
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P.S.: Aproveitando o convite para o meu curso, fica aqui um link para o trailer da nova versão de Cosmos, estrelando, desta vez, Neil deGrasse Tyson.

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* Para quem se interessa por Biológicas, a especialidade do Fernando é gafanhotos. Links aqui para o mestrado e para o doutorado dele. 
___Aproveitando a nota de rodapé, vale dizer que eu já dei algumas aulas junto com o Fernando, analisando o livro Admirável Mundo Novo, do Huxley, e tudo funcionou muito bem. 
** Av. Tiradentes, nº 615, Bairro do Bom Retiro, São Paulo, SP. Bem pertinho do metrô Tiradentes.